
Em tempos de tensões geopolíticas e retrocessos democráticos em diversas partes do mundo, visitar Taiwan é como respirar um ar de esperança. Durante uma semana em Taipei, capital da ilha, vi de perto o que significa construir uma nação moderna sustentada por três pilares inegociáveis: liberdade, soberania e inovação.
Logo nos primeiros passos, o contraste entre o tamanho do território e a grandeza de seus valores chama a atenção. O Palácio Presidencial, imponente por fora e profundamente simbólico por dentro, abriga uma exposição permanente sobre a luta do povo taiwanês pela liberdade. Não se trata apenas de um museu: é um lembrete vivo de que a democracia não é algo dado — é conquistada, defendida e cultivada todos os dias.
O Memorial Chiang Kai-Shek reforça essa consciência histórica. Muitos podem não conhecer sua trajetória, mas ele foi o líder nacionalista que transferiu o governo da República da China para Taiwan após a guerra civil contra os comunistas na China continental. Ainda que seu regime tenha começado de forma autoritária, foi sob sua liderança que se plantaram as sementes da democracia que floresceria anos depois. O memorial, com sua arquitetura grandiosa e seu clima de reverência, nos obriga a refletir: o que é preciso para que uma nação sobreviva e se afirme, mesmo diante de pressões externas?
Essas pressões não são retóricas. O que escutei do ministro das Relações Exteriores de Taiwan foi uma declaração serena, mas firme: a ilha é soberana e quer manter relações pacíficas com o mundo, sem abrir mão de seu direito à autodeterminação. Não há bravatas, nem ilusões. Há clareza estratégica e uma confiança notável em sua própria identidade.
Essa confiança se traduz em políticas públicas de excelência. No Ministério da Saúde, soube que 99,9% da população está coberta pelo sistema público de saúde — altamente digitalizado e eficiente. No Ministério do Desenvolvimento Econômico, ficou evidente que Taiwan valoriza com prioridade as nações que reconhecem sua legitimidade — como Paraguai e Guatemala — promovendo parcerias comerciais justas e duradouras.
Mas Taiwan não é apenas um símbolo político. É uma potência tecnológica. Visitei indústrias do setor naval, onde conheci parte da frota da Marinha taiwanesa; empresas de veículos elétricos em estágio avançado de pesquisa; e, sobretudo, centros de excelência em semicondutores — setor no qual o país lidera o mundo. Em cada lugar, uma lição: inovação não se faz com discursos, mas com investimento sério, capital humano qualificado e estabilidade institucional.
A visita ao Taipei 101, um dos edifícios mais altos do mundo, encerrou simbolicamente o que ficou evidente ao longo de toda a viagem. Taiwan se projeta para o alto porque tem os pés firmes no chão de seus valores.
Mais do que uma ilha, Taiwan é um farol. Mostra que democracia e desenvolvimento não são incompatíveis; que liberdade e segurança podem caminhar juntas; e que soberania não precisa de gritos — apenas de firmeza e convicção.
Volto ao Brasil impressionado, inspirado e convicto de que temos muito a aprender com esse pequeno território de alma gigantesca.