O Brasil encerrou o primeiro trimestre de 2025 com pouco mais de 25 milhões de pessoas, 16% da população adulta, que admitem ter ou já ter tido criptoativos, de acordo com a 1ª Pesquisa Nacional das Criptomoedas conduzida pelo Datafolha em parceria com a Paradigma Education.
O levantamento, divulgado em março, mostrou que os ativos digitais ultrapassaram as ações negociadas na B3 na lista de preferências do investidor comum, ficando atrás apenas da poupança, dos imóveis e do “dinheiro no colchão”. Essa virada de chave acontece num momento em que a Selic recua gradualmente.
E que o investidor busca alternativas de retorno superior sem abrir mão da liquidez imediata proporcionada pelas plataformas de negociação online. Não por acaso, relatórios que mapeiam a entrada de novos tokens em grandes exchanges, como a análise Binance, são tão populares entre os brasileiros.
Essas informações do balcão mundial, na prática, baliza a tomada de decisão de milhares de investidores interessados em capturar valor antes de uma valorização.
Educação financeira ainda corre atrás
A mesma pesquisa Datafolha revelou que 54% dos brasileiros já ouviram falar em Bitcoin, mas dois terços não conseguem nomear outra moeda digital. O dado confirma o diagnóstico de Fábio Plein, diretor-geral da Coinbase para a América Latina, de que a questão agora é transformar curiosidade em conhecimento estruturado.
Há avanço, mas a lacuna educativa permanece. Só 18% enxergam cripto como instrumento de diversificação de carteiras de longo prazo, enquanto 17% associam o segmento à preservação de valor em cenários inflacionários. A desinformação não impediu o país de figurar entre as nações mais engajadas no uso cotidiano desses ativos.
O Índice Global de Adoção de Criptomoedas 2024 da Chainalysis colocou o Brasil na 10ª posição, à frente de mercados com histórico de volatilidade como Turquia e Reino Unido. O estudo, ao qual se atribui metodologia que pondera transações on-chain por nível de renda, ressalta o papel das fintechs e dos bancos digitais na popularização das carteiras multimoeda.
Se a educação avança lentamente, o user experience evoluiu à velocidade da luz. Abrir conta, transferir reais via Pix e converter em stablecoins se tornou um processo de dez minutos graças à competição entre corretoras internacionais que fincaram bandeira no país.
Regulação e o Drex no horizonte
A regulamentação doméstica avança em dois trilhos. No Congresso, o Projeto de Lei 4.401/2021 consolidou a competência da CVM sobre valores mobiliários tokenizados e deu ao Banco Central o papel de supervisor de exchanges. A autoridade monetária também acelera o Projeto Drex, o real digital.
No site oficial do Banco Central, o órgão descreve o Drex como um instrumento de inclusão financeira capaz de democratizar o acesso a serviços de pagamento digitais. A segunda fase-piloto, iniciada em janeiro, já envolve bancos incumbentes, fintechs e operadoras de meios de pagamento, todos integrados a uma rede DLT que terá interoperabilidade com aplicações DeFi supervisionadas.
Além de colocar o real no ecossistema blockchain, o Drex promete uma estatística mais refinada sobre fluxos cambiais ligados a cripto. Hoje o Banco Central estima esses valores a partir de importações de “bens intangíveis”. Um estudo do Ipea mostrou que as importações de criptoativos saltaram de $6 bilhões em 2021 de dólares para $10,9 bilhões de dólares até novembro de 2023.
O novo marco contábil, que migra essas transações da balança comercial para a conta capital, tende a capturar com mais precisão o apetite do brasileiro pelo mercado de moedas digitais. Com inflação estabelecida perto de 4,9% ao ano e Selic apontando para um dígito, o carry trade perde força, abrindo espaço para ativos de maior risco.
A Sociedade Brasileira de Planejamento Financeiro calcula que alocações em cripto já representam 6,8% do portfólio médio dos investidores de varejo que declaram renda entre cinco e dez salários mínimos, percentual que era inferior a 2% em 2021. Até instituições tradicionais já começam a reagir.
Quatro gestoras lançaram ETFs de índice cripto na B3 desde dezembro, dois deles replicando carteiras baseadas em staking de ether. Do lado tecnológico, as layer-2 do ecossistema Ethereum chegam ao Brasil via parcerias com fintechs de pagamentos instantâneos, enquanto projetos nacionais baseados em real world assets tokenizam recebíveis do agronegócio.
Para o investidor, isso significa que a exposição a cripto vai muito além da simples compra de Bitcoin, engloba renda passiva em protocolos de DeFi, participação em pools de liquidez e, em breve, transações diárias no Drex. Com tudo isso, a carteira cripto do brasileiro médio continua crescendo, guiada principalmente pela praticidade do Pix e pela busca de alternativas à poupança.