
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros provocou um abalo imediato no setor agropecuário. Com início de vigência previsto para 1º de agosto, a medida deve afetar diretamente o fluxo de exportações de itens como carne bovina, suco de laranja, café, soja e etanol — produtos que compõem uma parcela expressiva da pauta exportadora do Brasil para o mercado norte-americano.
Empresas e cooperativas já sinalizam preocupação com a perda de competitividade frente a países concorrentes. A sobretaxa aumenta consideravelmente o preço final dos produtos brasileiros nos Estados Unidos, tornando-os menos atrativos diante de fornecedores como México, Argentina, Colômbia e Vietnã, que não enfrentam a mesma restrição.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o impacto pode representar uma queda de até 40% no volume exportado para os Estados Unidos apenas no segundo semestre de 2025. No caso da carne suína e de frango, o setor calcula um recuo de até US$ 500 milhões no valor total exportado, caso a tarifa se mantenha até o fim do ano.
Produtos mais afetados
Entre os principais produtos do agro atingidos pela medida estão:
- Carne bovina e suína: Perda de competitividade frente a produtores norte-americanos e argentinos.
- Café: O Brasil é o maior fornecedor global, mas perde espaço para o Vietnã nos EUA.
- Suco de laranja: Flórida, principal estado produtor, pode se beneficiar da ausência do concorrente brasileiro.
- Soja e derivados: Exportações destinadas aos EUA representam um volume menor, mas a tarifa cria insegurança jurídica e comercial.
- Etanol: O setor sucroenergético teme suspensão de contratos e aumento da sobreoferta no mercado interno.
Setores da agricultura e pecuária divulgaram notas diversas enquadrando a medida como “lesiva”, alegando que os Estados Unidos são parceiros comerciais históricos do agro brasileiro. Segundo essas entidades, a resposta do governo deve ser de “cautela”.
Reação do setor produtivo
Cooperativas agroindustriais e grandes empresas exportadoras têm mobilizado suas áreas jurídicas e comerciais para revisar contratos em andamento e renegociar cláusulas de entrega e precificação. Há relatos de que redes varejistas e distribuidoras americanas já estariam buscando fornecedores alternativos.
O temor do setor é de que a imposição da tarifa leve a uma desorganização da cadeia produtiva, com excesso de oferta interna, queda de preços no mercado nacional e pressão sobre o produtor rural. “É uma medida com impacto em cascata. Não afeta apenas as grandes empresas exportadoras, mas desestrutura a ponta da cadeia”, diz um executivo da área de exportações da BRF, sob condição de anonimato.
Rota alternativa: China, Oriente Médio e Europa
Com o mercado americano comprometido, entidades setoriais defendem uma reorientação estratégica das exportações. A China aparece como destino prioritário, mas enfrenta suas próprias limitações e regras sanitárias. Oriente Médio e países da União Europeia também são citados como alternativas possíveis, embora em menor escala.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) deve intensificar ações comerciais para mitigar os efeitos da perda de mercado nos EUA. Segundo fontes ligadas ao Ministério da Agricultura, o governo estuda a concessão de apoio financeiro emergencial a pequenos e médios produtores atingidos pela medida, além de ampliar linhas de crédito para exportação.
Consequências econômicas
O impacto sobre o agronegócio não se restringe ao comércio exterior. A queda na demanda internacional pode pressionar o câmbio, gerar excedente de produção no mercado interno e contribuir para a deflação dos preços agrícolas — o que compromete a rentabilidade do produtor e a arrecadação de tributos em estados agroexportadores.
Há também o temor de que a medida de Trump inaugure um novo ciclo de barreiras comerciais, com outros países adotando estratégias semelhantes ou exigindo contrapartidas do Brasil. “Estamos diante de um cenário que combina instabilidade política, insegurança jurídica e risco econômico”, relatou um consultor da FGV Agro.