Certa vez dois meninos discutiam, querendo levar vantagem um sobre o outro. Enquanto um dizia que corria 10 Km, o outro dizia que corria 11Km, e assim por diante. Até que um deles soltou a seguinte bravata: “Meu pai é maior que o seu, pois se ele levantar os braços consegue tocar nas nuvens com as mãos.” Então o outro menino perguntou: “Quando ele levanta os braços, ele toca em algo fofinho?”. Ao que ouviu como resposta: “Sim!”. Então o menino respondeu: “Pois é, é o s*c* do meu pai…”
A guerra pelo poder já começa na infância.
Em diversas áreas de nossas vidas percebemos que a competitividade humana é latente. Até um certo limite, que é subjetivo, ela é sadia, pois permite que a sociedade, como um todo evolua. Porém, tenho a sensação de que passamos e muito dos limites aceitáveis.
Esses limites podem ser observados em diversos momentos, como no trânsito quando algum carro ultrapassa o motorista. Quantas vezes não vemos a resposta com mais velocidade? E por isso, quantas vidas não se perdem em acidentes?
Milionários não se satisfazem mais com as mansões nababescas, transformam-nas em prostíbulos especializados em pedofilia e outras vertentes de sexo que tenho receio até de imaginar. E acabam se “suicidando” em celas de cadeia. Valeu a pena essa sensação de poder?
O meio acadêmico é outra fonte de dissimulação e guerra de egos. A soberba transborda das pequenas salas solitárias, contaminando os corredores. Para ilustrar isso, cito uma piada muito comum, quando eu fazia MBA na USP, que dizia que professores desta universidade acreditam ser deuses. Os da Medicina tem certeza. Na hora do câncer, isso faz alguma diferença?
E essa disputa existe até mesmo em pequenos clubes, como os de xadrez (sim, eles existem). Fui presidente do Clube de Xadrez – Santos e por um desentendimento político quando fui eleito (sócio que deixou de ter regalias às quais não tinha direito), fui sutilmente ameaçado de morte, afinal, o espaço dele era maior e mais velho que o meu. Para minha sorte, diante da testemunha de uma de minhas alunas, e o devido boletim de ocorrência foi registrado. E no quesito soberba, fica difícil de saber qual o maior, o universitário ou o do tabuleiro.
Nem dentro do matrimônio estamos livres do “o meu é maior do que o seu”, agora que o feminismo se enraizou dentro dos lares. E não é muito difícil de perceber para que caminhos os casais são levados…
Se observamos os diversos segmentos de nossas vidas percebemos que o que vemos no mundo político é uma consequência de nossa visão de mundo. Não confundam aqui com o que disse Karnal, pois não estou comparando esses desvios comportamentais com os crimes contra a nação, mas apenas querendo provocar uma reflexão para que nos tornemos cidadãos melhores e para que possamos escolher semelhantes para nos representarem.
No mundo político, a soberba, as comparações, as ações tomam proporções inimagináveis.
Quantas famílias não são destruídas sem que ninguém tome conhecimento?
Precisamos lembrar que os tesouros materiais que juntamos aqui não serão levados conosco, já os valores que adotamos, sim.
Eu já entrei na fase da vida onde não faço mais essas comparações. Hoje uso uma versão mais positiva dela: com o meu pouco, com o meu menor, como posso fazer o bem se multiplicar? Meu foco não é mais egocêntrico, meu adversário sou eu mesmo, quando avalio o que posso deixar de bom quando meus olhos fecharem.
Porém, há uma coisa que essas pessoas que juntam aquilo que não poderão carregar não conseguem superar: a dor das marcas permanentes que são impressas na formação de crianças que perdem seus pais. E até mesmo os que conseguem se reerguer, vencer na vida, carregam tristezas difíceis de se livrar.
E nenhuma estatística mostrará esse índice.