PREJUÍZO HISTÓRICO

Correios suspendem R$ 2,75 bilhões em tributos e dívidas

Estatal enfrenta crise de caixa, com atrasos em tributos, fornecedores, vale-alimentação e fundos de empregados após 11 trimestres consecutivos de prejuízo.

Movimento no Centro de Tratamento de Encomendas dos Correios, em Benfica
Foto: Fernando Frazão/ABr

Enfrentando uma profunda crise financeira, os Correios decidiram adiar o pagamento de uma série de compromissos que, juntos, somam R$ 2,75 bilhões. A medida, oficialmente reconhecida pela empresa, tem como objetivo manter a liquidez e reorganizar o fluxo de caixa, após quase três anos consecutivos de resultados negativos.

Embora os atrasos já tivessem sido sinalizados em notas explicativas anexadas aos balanços contábeis, o montante exato da dívida só foi revelado agora. Em um comunicado interno, o setor financeiro da estatal admite que optou por postergar diversos repasses e encargos com o intuito de conter o colapso nas finanças da companhia, que atravessa uma sequência de 11 trimestres no vermelho.

Entre os compromissos adiados estão pagamentos ao plano de saúde dos funcionários (Postal Saúde), ao fundo de pensão Postalis, ao programa Remessa Conforme, a obrigações com o INSS, fornecedores, franquias e tributos federais como PIS e Cofins. Do total devido, mais da metade está associada a encargos cujo não pagamento acarreta multas e juros, mas não compromete imediatamente a operação da empresa.

Relatório da Receita Federal anexado ao pedido de certidão negativa de débitos revela que os Correios possuem R$ 1,3 bilhão em tributos pendentes. Além disso, prestadoras de serviços de transporte ajuizaram ações na Justiça Federal cobrando R$ 104 milhões em faturas não quitadas.

A estatal afirma que a postergação dos pagamentos é temporária e que está em andamento a busca por alternativas que reequilibrem as contas. Entre as medidas previstas está a captação de R$ 1,8 bilhão em novos recursos, embora não tenha sido esclarecido se os valores viriam de operações de crédito ou de aporte direto da União.

No fim de 2024, a empresa já havia recorrido a dois empréstimos, somando R$ 550 milhões, contratados junto aos bancos Daycoval e ABC. Esses financiamentos precisam ser pagos até o fim de 2025, e as primeiras parcelas começaram a vencer agora em julho.

Outra aposta da gestão está na liberação de um financiamento de R$ 4,3 bilhões junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), instituição ligada ao bloco dos Brics e comandada pela ex-presidente Dilma Rousseff. No entanto, esse montante será destinado exclusivamente a projetos de logística sustentável e não poderá ser usado para suprir o déficit de caixa.

Em nota oficial, os Correios atribuem o atual cenário a fatores externos, como mudanças recentes na legislação que impactaram o comércio exterior e reduziram o volume de postagens. A empresa também menciona o acirramento da concorrência e alterações nas regras de importação, que, segundo ela, exigiram respostas rápidas diante da queda de competitividade e da perda de receita.

O resultado dessa conjuntura foi sentido de forma mais intensa no primeiro trimestre deste ano, quando a estatal divulgou prejuízo de R$ 1,7 bilhão — o pior desempenho trimestral desde 2017, quando a divulgação dos balanços se tornou regular. O valor representa uma alta de 115% no prejuízo em comparação ao mesmo período de 2024. Dos 11 trimestres seguidos de perdas, nove ocorreram sob a gestão do atual presidente da empresa, Fabiano Silva.