SOB IMPACTO EXTERNO

Indústria nacional prevê prejuízo bilionário com tarifa de Trump e teme efeito dominó nas exportações

Setores de base e de transformação apontam risco de retração nas vendas, cancelamento de contratos e demissões em massa diante da sobretaxa de 50% imposta pelos EUA.

Foto: RCP/Medea
Foto: RCP/Medea

A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, configura um desfalque direto na indústria nacional. A medida, que entra em vigor em 1º de agosto, afetará diversos segmentos — do setor metalúrgico à indústria de transformação — com perdas que já são estimadas em bilhões de dólares no segundo semestre deste ano.

Embora a justificativa oficial americana mencione “desequilíbrios comerciais”, o pano de fundo da decisão é político: Trump associou a tarifa à alegada perseguição ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à atuação do Judiciário brasileiro. O gesto elevou a tensão diplomática e desencadeou um movimento de reação coordenada no setor produtivo brasileiro.

Setores mais atingidos

A indústria de base é uma das mais expostas. O Brasil exporta para os Estados Unidos uma variedade de bens com alto valor agregado — entre eles aço semiacabado, alumínio, componentes elétricos, papel e celulose, autopeças e até aeronaves. A nova tarifa compromete a competitividade desses produtos, elevando artificialmente o preço final para os compradores norte-americanos.

A Associação Brasileira da Indústria do Aço (Aço Brasil) prevê uma queda de até 30% no volume exportado para os EUA nos próximos seis meses, com impacto direto sobre usinas siderúrgicas instaladas no Sudeste e Sul do país. No caso do alumínio, os principais polos industriais do Norte e Nordeste devem registrar desaceleração das operações a partir do terceiro trimestre.

A Embraer, uma das maiores exportadoras de bens industriais do país, também foi atingida pela medida. O segmento de jatos executivos e aeronaves comerciais de pequeno porte enfrenta concorrência direta com empresas americanas, o que aumenta o risco de perda de encomendas estratégicas.

Cancelamentos e revisão de contratos

Indústrias instaladas no Brasil que mantêm contratos com parceiros norte-americanos já começaram a renegociar prazos, preços e condições de entrega. Há registros de pedidos suspensos, sobretudo no setor de autopeças, com receio de aumento de custos logísticos e tributários.

Empresas de médio porte, que atuam com margens mais estreitas e menor capacidade de absorver perdas, avaliam a possibilidade de interromper temporariamente os embarques ou redirecionar a produção para outros mercados. O risco de retração do faturamento, combinado à instabilidade cambial e à queda de confiança, pode resultar em demissões, adiamento de investimentos e fechamento de unidades produtivas.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a tarifa compromete o desempenho de cerca de 25 mil empresas brasileiras que, direta ou indiretamente, possuem relação com o mercado norte-americano.

Efeitos no mercado de trabalho

O resultado final de todo esse ‘fogo cruzado’ sobre o emprego industrial é uma das maiores preocupações. Com a previsível queda nas exportações e a redução na atividade das cadeias produtivas, sindicatos já projetam desligamentos em massa em setores como metalurgia, construção naval, bens de capital e produção química.

Empresas exportadoras de médio porte, concentradas em polos industriais no interior de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, estão entre as mais vulneráveis. Em nota, o Sindicato da Indústria Metalúrgica do ABC afirma que a tarifa “pode desorganizar completamente as cadeias de fornecimento e gerar perdas que não serão repostas a curto prazo”.

Insegurança e resposta institucional

Para analistas econômicos, a imposição de barreiras comerciais por um dos principais parceiros do Brasil afeta não apenas os fluxos comerciais, mas a previsibilidade institucional. “É uma medida que abala a confiança do setor produtivo e afeta decisões de médio e longo prazo. Há um risco real de desindustrialização caso a situação se prolongue”, comentou nas redes sociais o economista afirma Marcello Oliva.

A resposta do governo brasileiro tem sido articulada em três frentes: (1) análise jurídica para eventual contestação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC); (2) estudo de contramedidas via Lei de Retaliação; e (3) ampliação dos esforços diplomáticos para diversificação dos mercados.

No Congresso, parlamentares da base governista e da oposição têm pressionado o Planalto. De um lado, há quem exija uma retaliação firme; de outro, prevalece a defesa de cautela e moderação. Alas próximas ao governo têm articulado uma “reação proporcional e imediata”, com o argumento de que é necessário “defender empregos, competitividade e soberania industrial”.