BRASIL NA MIRA

Lula quem sugeriu sistema de pagamentos alternativo ao dólar no Brics, segundo ministro russo

Chanceler relatou que presidente brasileiro garantirá prioridade ao tema durante sua presidência no bloco; Trump ameaça com tarifas de até 100% contra países que apoiarem nova moeda.

Foto: Matthew Rirvello
Foto: Matthew Rirvello

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que foi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quem iniciou o debate sobre a criação de sistemas de pagamento alternativos ao dólar dentro do Brics, durante a cúpula do grupo realizada em Joanesburgo, em agosto de 2023. A declaração foi feita em novembro de 2024, em entrevista à TV BRICS, na qual o chanceler russo defendeu que Lula assumirá o tema como prioridade na presidência brasileira do bloco, em 2025.

“Acredito que a plataforma de pagamentos, os mecanismos de compensação, os mecanismos de seguro estarão entre as prioridades da presidência brasileira. Afinal, foi o presidente Lula da Silva, na cúpula do Brics em Joanesburgo, no ano passado, que iniciou o debate trabalhado pela presidência russa sobre sistemas de pagamento alternativos”, disse Lavrov. “Como já disse, houve progresso, mas é preciso levá-lo à sua conclusão lógica para que surjam mecanismos prontos para serem usados. Não tenho dúvidas de que nossos colegas brasileiros dedicarão o máximo de energia a essa questão, considerando que essa é uma iniciativa de seu presidente. Acredito que o próprio Lula garantirá que essa questão seja uma das prioridades.”

A proposta envolve a criação de plataformas de pagamento e compensação bancária que funcionem independentemente do dólar. O avanço da pauta tem gerado reações contundentes por parte do governo dos Estados Unidos. Em novembro de 2024, o presidente americano, Donald Trump (Partido Republicano), ameaçou impor tarifas de até 100% aos países que apoiarem a criação de uma nova moeda no âmbito do Brics.

“A ideia dos países do Brics de se afastarem do dólar enquanto ficamos parados e assistimos ACABOU. Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda Brics nem apoiarão nenhuma outra moeda para substituir o poderoso dólar americano ou enfrentarão tarifas de 100% e podem se preparar para dizer adeus à venda para a maravilhosa economia dos EUA. Eles podem ir encontrar outro ‘otário!’”, escreveu Trump na Truth Social.

O republicano já havia se manifestado contra a criação de uma nova moeda em ao menos duas ocasiões anteriores, em janeiro e fevereiro de 2025. Em reunião de gabinete no dia 8 de julho, reiterou sua posição e anunciou tarifas de 10% a serem aplicadas sobre países do Brics. Na ocasião, afirmou que o bloco “tenta destruir o dólar” e que qualquer tentativa nesse sentido implicará em “preço alto a pagar”.

“Só estou dizendo que, se as pessoas quiserem contestar [o dólar], podem, mas terão que pagar um preço alto. E não acho que nenhuma delas esteja disposta a pagar esse preço”, disse Trump. “O dólar é rei e vou mantê-lo assim.”

Lula respondeu à ameaça no mesmo dia, após reunião com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, no Palácio da Alvorada. “Nós não concordamos quando o presidente dos Estados Unidos falou que vai taxar os países dos Brics”, afirmou. “Somos países soberanos e não aceitamos intromissão de quem quer que seja. Não queremos contencioso, o que queremos é fazer com que nossos países possam progredir.”

No domingo anterior, 6 de julho, Trump já havia advertido que qualquer país alinhado com as “políticas antiamericanas do Brics” seria incluído no pacote de sanções comerciais.

Leia a íntegra da fala de Lavrov:

“Acredito que a plataforma de pagamentos, os mecanismos de compensação, os mecanismos de seguro estarão entre as prioridades da presidência brasileira. Afinal, foi o presidente Lula da Silva, na cúpula do Brics em Joanesburgo, no ano passado, que iniciou o debate trabalhado pela presidência russa sobre sistemas de pagamento alternativos. Foi justamente em resposta a essa iniciativa registrada na Declaração de Joanesburgo que trabalharam com os ministros das Finanças em colaboração com os presidentes dos bancos centrais. Como já disse, houve progresso, mas é preciso levá-lo à sua conclusão lógica para que surjam mecanismos prontos para serem usados. Não tenho dúvidas de que nossos colegas brasileiros dedicarão o máximo de energia a essa questão, considerando que essa é uma iniciativa de seu presidente. Acredito que o próprio Lula garantirá que essa questão seja uma das prioridades.”