GUERRA ECONÔMICA

Trump retalia governo Lula e impõe tarifa de 50% sobre todas importações do Brasil

Taxa é a mais alta já aplicada a um parceiro dos EUA; presidente norte-americano cita má atuação do governo petista, ações ilegais do STF e perseguições contra Bolsonaro, familiares e apoiadores do ex-mandatário.

Foto: OWHP
Foto: OWHP

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) uma tarifa de 50% sobre todas as importações de origem brasileira. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o republicano alegou que a decisão foi motivada pela “relação comercial muito injusta” entre os dois países e, em sobretudo, pela ação penal que o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta no Supremo Tribunal Federal.

Trump declarou que as políticas brasileiras produziram “déficits comerciais insustentáveis” que ameaçariam a economia norte-americana. Os números oficiais apontam o contrário: em 2024, os EUA registraram superávit de US$ 7,4 bilhões no fluxo de bens com o Brasil. Mesmo assim, o republicano sustentou que o aumento — de 10% para 50% — é “necessário para restaurar a reciprocidade”.

O Departamento de Comércio abriu simultaneamente uma investigação sobre práticas brasileiras no setor digital, acusando o país de restringir empresas norte-americanas. A Casa Branca classifica a iniciativa como parte de uma ofensiva mais ampla contra membros do Brics, bloco que, segundo Trump, ameaça a primazia do dólar.

A medida teve impacto imediato nos mercados. O Ibovespa futuro, com vencimento em agosto de 2025, recuou 2,23%, enquanto o dólar futuro subiu 1,76%, a R$ 5,58. No pregão à vista, o índice fechou em queda de 1,3% e a moeda americana avançou 1,06%, para R$ 5,50.

No Planalto, a ordem é responder com “total reciprocidade” caso a tarifa seja confirmada no Diário Oficial norte-americano. O Itamaraty prepara uma nota de protesto e estuda levar o caso à OMC. Para auxiliares de Lula, a vinculação explícita à situação de Bolsonaro configura interferência nos assuntos internos do país.

A decisão encerra um período de negociações que, desde abril, vinha tentando evitar novas sobretaxas por parte de Washington. Sem acordo, Trump endureceu e, na carta divulgada na Truth Social, chamou o processo contra Bolsonaro de “vergonha internacional”.

Com o novo patamar de 50% — o mais alto imposto a um parceiro dos EUA nesta rodada de sanções —, exportadores brasileiros de aço, alumínio, alimentos processados e produtos de base mineral serão os mais afetados. A Confederação Nacional da Indústria calcula que as vendas desses segmentos aos EUA somaram US$ 18 bilhões no ano passado.

A equipe econômica brasileira avalia contramedidas em três frentes: tarifa espelhada sobre bens industriais norte-americanos, restrições em compras governamentais e acionamento de painéis na Organização Mundial do Comércio. Até a noite desta quarta, o Ministério da Fazenda não havia se pronunciado oficialmente.