
A proposta de anistia apresentada pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade‑SP) conseguiu unir, por motivações distintas, os dois principais polos políticos da Câmara: a bancada do PL, ligada ao ex‑presidente Jair Bolsonaro, e a do PT, que integra a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos os grupos se posicionam contra o texto em elaboração, que prevê a redução de penas para condenados pelos atos do dia 8 de janeiro.
Os petistas são contrários a qualquer medida que possa beneficiar Bolsonaro ou seus aliados, e indicam rejeição integral à proposta. Já os deputados bolsonaristas condicionam o apoio à inclusão de uma anistia ampla e irrestrita. Segundo parlamentares da legenda, apenas reduzir o tempo de condenação não resolveria o problema central — que, na avaliação do grupo, é a suposta perseguição judicial contra apoiadores do ex‑presidente.
Diante da resistência dos dois blocos, o cenário para avanço do projeto é considerado desfavorável. Sem consenso com o PL e sem acordo com o PT, o relator enfrenta dificuldades para viabilizar uma proposta intermediária.
Relatório em impasse e adiamento na pauta
Paulinho da Força afirmou que pretende apresentar o relatório final nesta segunda-feira (6.out). Caberá ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos‑PB), definir se e quando a matéria será pautada. Contudo, nos bastidores, aliados indicam que a votação não deve ocorrer de forma imediata.
Motta tenta manter o controle sobre a agenda da Casa após o desgaste provocado pela Proposta de Emenda à Constituição da Blindagem — rejeitada após repercussão negativa no Senado. O presidente da Câmara também busca evitar novo conflito com a outra Casa Legislativa, que já demonstrou desconfiança em relação a temas que envolvam retrocessos penais ou institucionais.
Centrão evita desgaste e aguarda PL
Outro fator que contribui para a estagnação da proposta é o posicionamento do Centrão. O bloco, que em geral atua como fiel da balança nas votações mais sensíveis, sinalizou que não apoiará o projeto sem o respaldo do PL. Em ano pré‑eleitoral, partidos de centro evitam associar-se a medidas impopulares.
Com o impasse instalado, a tramitação da proposta depende de uma reconfiguração do momento político ou de um novo acordo que permita a Motta pautar o texto com respaldo suficiente. Por ora, o relatório deve ser entregue, mas sua votação continua indefinida.