FUTURO PRESIDENTE DA REPÚBLICA?

Centrão vê Eduardo como sucessor natural de Bolsonaro e liga sinal de alerta nos bastidores

Caciques partidários enxergam chances de o filho do ex-presidente reverter a inelegibilidade nos próximos meses; caso não consiga, o receio é que ele herde integralmente o capital político do pai e inviabilize o surgimento de uma liderança própria do grupo para 2026.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Caciques partidários do Centrão avaliam, com preocupação, a consolidação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como liderança central no cenário eleitoral de 2026. A leitura interna, segundo apuração do Conexão Política, é de que o deputado se tornou o principal herdeiro do capital político do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, e que sua força atual já começa a inviabilizar o surgimento de uma liderança própria do grupo para disputar o Palácio do Planalto.

Mesmo diante da inelegibilidade imposta ao ex-presidente, lideranças de siglas como PP, Republicanos e União Brasil reconhecem que o cenário pode mudar em poucos meses. Há expectativa de reversão da punição a Jair nos tribunais superiores. Mas mesmo que a inelegibilidade se mantenha, o temor é que Eduardo concentre todo o simbolismo e apelo eleitoral bolsonarista, o que o colocaria à frente de qualquer nome que o Centrão tente articular.

Nos bastidores, o sinal de alerta aumentou nos últimos dias após a atuação do ‘filho 03’ nas crises diplomática e institucional entre Brasil e Estados Unidos. Como apurou o Conexão Política, líderes do reduto paulista manifestaram incômodo com o grau de influência que o deputado federal passou a exercer, sobretudo por ter conseguido travar articulações do governo federal e colocar a reputação do Supremo Tribunal Federal (STF) em xeque, tanto no exterior quanto no debate interno. A avaliação é de que o STF já enfrentava denúncias graves, mas não havia chegado a um nível tão elevado de exposição negativa — algo que, para esses caciques, foi impulsionado diretamente por Eduardo.

O entendimento compartilhado por essas lideranças é de que o filho do ex-presidente não só tem obtido êxito nas articulações mais sensíveis do momento, como também tem tomado para si a imagem de liderança nacional capaz de conduzir um novo ciclo político. Até pouco tempo atrás, essa possibilidade era considerada improvável até mesmo entre aliados. Mas com o desenrolar da crise internacional e a aproximação com Washington, o nome de Eduardo passou a ser visto como inevitável.

Outro ponto que sustenta a inquietação do Centrão é o acesso direto que o parlamentar tem mantido ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a integrantes estratégicos da Casa Branca. A leitura entre os dirigentes partidários é que tal nível de interlocução traz um trunfo incomparável para qualquer político com aspirações nacionais. Embora Eduardo já tivesse trânsito com o entorno de Trump em anos anteriores, agora a percepção é de que ele está consolidado como ponte oficial com o governo norte-americano, com as portas da Casa Branca totalmente abertas.

Com Jair Bolsonaro fora da disputa, as apostas do Centrão se voltavam para nomes como Tarcísio de Freitas. Apesar da origem bolsonarista, o mandatário paulista é considerado mais palatável ao grupo. Outro nome é o de Ratinho Júnior, governador do Paraná, que também flerta com os interesses dessa ala do Centrão. A ideia era de que uma dessas candidaturas representasse a “virada de página” contra o bolsonarismo. Mesmo obtendo votos desse eleitorado, os ‘centristas’ enquadram a base mais fiel ao ex-presidente como “extremista” e “obstáculo para agendas pragmáticas”.

O cálculo, apesar das tentativas de êxito, foi profundamente alterado nas últimas semanas. De forma unânime, a avaliação atual entre os dirigentes do Centrão é que Eduardo Bolsonaro entrou definitivamente no jogo e embaralhou o tabuleiro para 2026. Com os tarifaços e sanções norte-americanas prestes a atingir o Brasil, a tendência é que o parlamentar de 41 anos amplie ainda mais sua base, se beneficiando da insatisfação popular e de um discurso de resgate democrático nacional.

A incógnita agora não é mais se Eduardo será candidato — mas até onde sua candidatura poderá ir. E, para o Centrão, essa resposta já é uma ameaça direta aos seus planos de protagonismo político.