
O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Guilherme Boulos, criticou neste fim de semana a articulação de governadores da oposição que defendem o enquadramento de facções criminosas como organizações terroristas. Segundo ele, a medida pode abrir caminho para a interferência internacional em assuntos internos do Brasil.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Boulos afirmou que mudar o enquadramento jurídico não altera a atuação no combate ao tráfico. “Você vai combater o tráfico de drogas mudando o nome de narcotraficante para terrorista? Isso não muda um ‘A’. Quando esses governadores se prestam a um papel desse, estão montando um consórcio de traição à pátria”, declarou.
As declarações ocorrem após o lançamento do chamado “Consórcio da Paz”, iniciativa criada por governadores de perfil de centro e de direita após a operação no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 mortos. O grupo quer promover ações integradas de segurança pública entre os Estados e defender propostas legislativas como o Projeto de Lei apresentado pelo deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que pretende alterar a Lei Antiterrorismo para classificar como terroristas organizações como o PCC, o Comando Vermelho e as milícias.
O texto, protocolado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, teve a análise adiada três vezes e, segundo o presidente do colegiado, deputado Paulo Azi (União Brasil-BA), não será pautado nesta semana.
Na entrevista, Boulos disse concordar com a avaliação do presidente Lula sobre a operação no Rio de Janeiro, classificada por ele como “matança”. “Não errou. Eu acho que foi uma matança, e algumas das vítimas dessa matança, quatro particularmente, foram policiais. Agora, dizer que uma operação que matou mais de 120 pessoas não foi uma matança? Então nós temos que ressignificar a língua portuguesa”, afirmou.
Ele também rebateu críticas feitas pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que acusou o governo federal de omissão. Segundo o ministro, a União tem atuado com propostas concretas, como a PEC da Segurança Pública e o PL Antifacção, apresentados pelo Executivo. “O presidente começou a romper esse tabu quando apresentou a PEC da Segurança, para que o governo dele puxe mais responsabilidades”, afirmou.
Boulos argumentou ainda que há visões opostas sobre como lidar com o tema. “Qual é a nossa diferença para a ‘extrema direita’? Eles querem usar a insegurança da população para fazer política à base do medo e do sangue. Nós queremos enfrentar de verdade o problema da segurança e do crime organizado. Isso passa pelo quê? Pegar peixe grande”, disse.
Ao ser questionado sobre pesquisas que apontam apoio popular à operação e à postura do governador Cláudio Castro, Boulos relativizou os dados e afirmou que esse tipo de reação precisa ser debatido. “A população aplaudiu o banho de sangue [no Rio], assim como a população de São Paulo, em 1992, aplaudiu o massacre do Carandiru. Agora, francamente, se esse sentimento for pautar a decisão política de um governo, daqui a pouco estaremos defendendo câmara de gás”, declarou.