“Estados Unidos e Donald Trump pegarão Lula de surpresa, no pulo, e todo mundo vai ver.” Essa é a leitura que circula nos corredores da direita em Brasília e entre aliados do presidente Trump próximos à Casa Branca, segundo apuração junto a interlocutores.
Fontes da direita em Brasília e aliados do governo Trump em Washington afirmam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá ser colocado em uma situação delicada caso decida apoiar o plano de paz proposto pelos Estados Unidos para encerrar a guerra entre Israel e Hamas.
Segundo apurações, auxiliares de Trump e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avaliam que, embora a esquerda brasileira e setores do governo já demonstrem simpatia pela iniciativa, o plano expõe um ponto caro e de contradição. A proposta norte-americana prevê, entre outros aspectos, a concessão de anistia ampla a integrantes do Hamas que aceitarem coexistir pacificamente na região, tendo como condição central para a pacificação.
Na prática, a medida vai fragilizar o discurso do governo brasileiro e do Supremo Tribunal Ese, que rejeita qualquer possibilidade de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Dificilmente a esquerda terá espaço político para recusar apoio à proposta, já que grande parte de sua base eleitoral está ligada à causa palestina e raramente manifesta respaldo a Israel.
A expectativa, segundo esse núcleo, é de que o governo Lula se alinhe à proposta de Trump. Logo, a oposição vai, sim, explorar a incoerência para turbinar o argumento de que o Brasil mantém uma política de perseguição contra adversários internos, ao mesmo tempo em que aceitaria um perdão amplo a integrantes de um grupo enquadrado como terrorista por diversos países.
Plano de paz
Donald Trump anunciou na última segunda-feira (29) um plano de paz para encerrar a guerra entre Israel e Hamas, com a previsão de criação de um Estado Palestino. O anúncio foi feito ao lado do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (Likud), que, segundo Trump, aceitou os termos da proposta.
“O plano que apresentamos hoje está focado em acabar com a guerra imediatamente, resgatar todos os nossos reféns e criar condições para a segurança israelense duradoura e o sucesso palestino”, declarou Trump. “Hoje é um dia histórico para a paz”, acrescentou.
Pelo plano, a partir do aval israelense, o Hamas terá 72 horas para libertar os reféns vivos e entregar os corpos ainda em sua posse. Nesse período, operações militares serão suspensas e as tropas israelenses iniciarão a retirada gradual da Faixa de Gaza. Em contrapartida, Israel se compromete a libertar 250 prisioneiros condenados à morte e 1.700 detidos após os ataques de 7 de outubro de 2023, além de devolver 15 corpos para cada refém solto.
A proposta também prevê anistia para combatentes do Hamas que aceitarem coexistir pacificamente na região. Aqueles que optarem por deixar a Palestina poderão fazê-lo em segurança. A desmilitarização, segundo a Casa Branca, abrirá caminho para a entrada de ajuda humanitária, sob supervisão da ONU e da Cruz Vermelha.
O plano inclui a criação de um governo de transição palestino de caráter “tecnocrático e apolítico”, supervisionado por um “Conselho da Paz” liderado por Trump e com participação do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
Na frente econômica, a proposta contempla a restauração das linhas de energia de Gaza e a implementação de uma zona econômica especial com tarifas preferenciais. A iniciativa terá apoio financeiro de países árabes e muçulmanos, como Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes, Egito e Jordânia, que também devem integrar uma força de estabilização temporária responsável pelo treinamento de policiais palestinos.
Se todas as etapas forem cumpridas, o governo dos Estados Unidos afirma que o plano abrirá caminho para a “autodeterminação e a criação de um Estado palestino”.