INVESTIGAÇÕES FEDERAIS

Ex-contador de Lulinha é alvo de operação contra lavagem de dinheiro ligada ao PCC

João Muniz Leite, que já atuou como contador em empresas do filho de Lula e prestou serviços ao petista no passado, é acusado de ser comparsa de operador do esquema ligado a postos em São Paulo. A defesa nega.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O contador João Muniz Leite, que já cuidou da contabilidade das empresas de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi alvo da Operação Spare, deflagrada nesta quinta-feira (25) pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). A ação apura um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), envolvendo postos de combustíveis, imóveis, casas de jogos e motéis.

Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na residência e no escritório de Leite, localizado em Pinheiros, zona oeste da capital paulista. O endereço fica no mesmo prédio onde funcionavam empresas de Lulinha, como a BR4 Participações e a G4 Entretenimento, cujas contabilidades eram administradas por Leite. O rompimento profissional teria ocorrido em 2023, após ele se tornar alvo da Operação Fim da Linha, que investigava a infiltração da facção em empresas de ônibus de São Paulo.

Segundo a Promotoria, Leite é acusado de ter elaborado as declarações de imposto de renda de Flávio Silvério Siqueira, o Flavinho, apontado como principal operador de uma rede de “laranjas” responsável por ocultar ganhos ilícitos. Documentos da Receita Federal indicam que o contador atuava para Flavinho e familiares, como Adriana Siqueira de Oliveira e Eduardo Silvério, todos com evolução patrimonial considerada incompatível. O MPSP afirma que Leite participou ativamente das estratégias de lavagem de dinheiro, utilizando empresas de fachada e interpostas pessoas.

Em nota assinada pelos advogados Jorge Delmanto e Marcelo Delmanto, a defesa de Leite negou envolvimento no esquema. “A investigação não recai sobre o cliente, apesar de, por equívoco de análise de datas, o atingir. O escritório de contabilidade do qual nosso cliente é sócio teve como cliente um dos investigados e duas empresas pertencentes a este, atuando até o ano de 2020. Portanto, desde 2020 não há qualquer vinculação comercial”, disse a nota.

Relação com a família Lula

Além de Lulinha, João Muniz Leite também prestou serviços para o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuidando de declarações de imposto de renda entre 2013 e 2016. O contador chegou a ser ouvido como testemunha no processo do triplex do Guarujá, no âmbito da Operação Lava Jato.

O escritório de contabilidade, alvo da ação desta quinta-feira (25), funcionava no mesmo endereço de empresas ligadas ao filho do presidente. O histórico de vínculos, embora encerrado, foi considerado relevante pelo Ministério Público para a linha investigativa.

Envolvimento anterior com o PCC

Esta não é a primeira vez que Leite é investigado por atividades ligadas à facção criminosa. O contador também foi suspeito de lavar dinheiro para Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, apontado como uma das lideranças do PCC e morto em dezembro de 2021. Durante cinco anos de vínculo, ele e a esposa acumularam pelo menos 55 prêmios de loteria, situação que gerou suspeitas de manipulação para justificar ganhos ilícitos.

Em depoimento à polícia, Leite declarou ter conhecido Cara Preta por intermédio de Vinícius Gritzbach, ex-integrante da facção que se tornou delator e foi assassinado em 2024. Na ocasião, o contador afirmou desconhecer as atividades criminosas do traficante.