O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca neste sábado (20) para Nova York, onde participará da abertura da Assembleia Geral da ONU, marcada para 23 de setembro. A viagem será marcada por um formato incomum: a delegação presidencial será reduzida ao mínimo necessário, com exclusão de congressistas e limitações a integrantes do Executivo. A decisão foi tomada diante do temor de que o governo do presidente Donald Trump (Partido Republicano) possa aplicar constrangimentos à comitiva brasileira, seja por meio de gestos diplomáticos, omissões ou até sanções baseadas na Lei Global Magnitsky.
Diferentemente de anos anteriores, nenhum deputado ou senador acompanhará Lula. A prática de incluir parlamentares em missões internacionais, além de ser protocolar, costuma funcionar como hábito governista do lulopetismo. Desta vez, porém, até mesmo os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), preferiram se manter afastados da viagem. Ambos avaliam que uma eventual associação direta com o presidente da República poderia ser interpretada negativamente por Washington e resultar em algum tipo de retaliação. A possibilidade de inclusão de nomes em sanções via Lei Magnitsky não é descartada nos bastidores.
Em 2024, os então presidentes do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL), estiveram com Lula em Nova York e acompanharam presencialmente o discurso do petista na abertura da Assembleia Geral da ONU. Sentaram-se ao lado da primeira-dama Janja Lula da Silva no plenário das Nações Unidas, numa demonstração de apoio institucional. Neste ano, a ausência de parlamentares sinaliza uma tentativa de neutralidade diante das tensões bilaterais entre Brasília e Washington.
A comitiva confirmada até agora inclui os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Sonia Guajajara (Povos Indígenas), além da presidente do Banco do Brasil, Tarciana de Medeiros. Outros ministros ainda aguardam definição de agenda. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ainda não teve o visto norte-americano renovado, apesar de solicitação. O Itamaraty continua sem resposta da Embaixada dos Estados Unidos.
Padilha está sob vigilância por parte do governo norte-americano. Ele foi incluído em uma lista de sanções pessoais decretadas pelo presidente Trump, por conta de sua atuação à frente do programa Mais Médicos durante o governo Dilma Rousseff. À época, a iniciativa envolveu a contratação de médicos cubanos, o que gerou acusações de violação de direitos humanos e de financiamento indireto ao regime de Havana. O visto de Padilha estava vencido, o que impediu efeitos diretos da punição, mas a sanção se estendeu à esposa e à filha, cujos vistos foram suspensos. A Casa Branca não pretende voltar atrás.
O Itamaraty informou, na segunda-feira (15), que parte dos membros da delegação também ainda não obteve os vistos necessários.