
A imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros restabeleceu uma disputa de narrativas. Enquanto o governo norte-americano, sob ordem direta do presidente Donald Trump, aponta violações constitucionais, práticas antidemocráticas e desrespeito a tratados internacionais por parte das autoridades brasileiras como motivação para a medida, políticos ligados ao governo Lula têm optado por minimizar as denúncias de abusos judiciais, perseguições políticas e violações de direitos humanos — preferindo atribuir a crise ao bolsonarismo.
A ofensiva americana não é isolada. Diversos órgãos internacionais, instituições jurídicas e veículos de imprensa estrangeiros vêm denunciando, com frequência crescente, a deterioração do Estado de Direito no Brasil. A escalada de decisões autoritárias do Supremo Tribunal Federal (STF), bem como ações do governo federal que afetam liberdades civis, têm sido alvo de preocupação global — mas internamente, esses alertas seguem sendo ignorados por setores ligados ao Planalto.
Ainda que Donald Trump tenha deixado claro que a nova tarifa decorre de práticas consideradas incompatíveis com os princípios democráticos e com os acordos multilaterais que regem o comércio e os direitos individuais, aliados de Lula preferem politizar a situação. Ignoram o contexto institucional da sanção e tentam transferir a responsabilidade para nomes da oposição, sem enfrentar os erros diplomáticos acumulados pela atual gestão e tampouco as ações do STF, foco das principais denúncias internacionais.
Um exemplo dessa tentativa de inversão de responsabilidade foi externada pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que nesta quarta-feira (16) atacou o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusando-o de “envergonhar o Congresso” ao supostamente negociar anistia com os EUA. Para Costa Filho, o parlamentar teria atuado de maneira lesiva ao país ao participar de articulações políticas com autoridades americanas.
“Eu lamento acompanhar um movimento errado de setores bolsonaristas prejudicando a economia do Brasil […] Me envergonha exercer um mandato de deputado e ver alguém negociar o prejuízo do Brasil”, afirmou o ministro durante cerimônia no Palácio do Planalto.
As falas ocorreram no mesmo dia em que o governo assinou o decreto de regulamentação do Programa BR do Mar. Em sua fala, Costa Filho chegou a responsabilizar Eduardo Bolsonaro pela desvalorização das ações da Embraer, alegando que a queda superior a 10% nas ações da empresa é consequência das tarifas impostas pelos EUA.
“O povo brasileiro vai ficar com menos emprego. Na hora em que a gente tarifa, a gente afeta o emprego no Brasil”, declarou, ignorando que a origem da medida está fundamentada em ações do próprio governo e do Judiciário brasileiro, não em movimentos da oposição.
Ao defender Lula, o ministro recorreu a comparações com a pandemia de COVID-19, afirmando que, caso o petista estivesse no poder naquele período, o Brasil teria perdido menos vidas — declaração que não apenas desvia o foco do tema atual como tenta reescrever uma narrativa política em meio a uma crise diplomática sem precedentes com os Estados Unidos.