Foto: ABr
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A megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, realizada na terça-feira (28), segue repercutindo entre os moradores do estado do Rio de Janeiro. Quatro pesquisas realizadas nos dias seguintes à ação apontam que a maioria dos cariocas apoiou a Operação Contenção e quer ver novas ofensivas semelhantes contra o crime organizado. A aprovação também se estende a moradores de favelas e, em menor escala, a eleitores identificados com partidos de esquerda.

O levantamento mais recente foi realizado pela Genial/Quaest e divulgado na noite de sábado (1º.nov). A sondagem registrou 64% de aprovação à operação. O instituto Paraná Pesquisas mediu 69,6%, a AtlasIntel, 62% entre brasileiros e 87,6% entre moradores de favelas do Rio. A pesquisa Datafolha, com metodologia distinta, mostrou que 57% concordam com a afirmação do governador Cláudio Castro de que a ação foi um sucesso.

A aprovação foi elevada, sobretudo, entre os moradores da Baixada Fluminense (73%) e da capital fluminense (68%). Entre os que ganham até dois salários mínimos, a aprovação ficou em 58%. Já entre os que recebem entre dois e cinco salários, subiu para 69%. Mesmo entre eleitores lulistas, a maioria foi favorável a novas operações.

No que diz respeito ao uso da força policial, o Paraná Pesquisas mostrou que 60,1% dos entrevistados não viram excessos. Na Datafolha, 48% disseram que a operação foi muito bem executada e 21% a classificaram como regular. A AtlasIntel indicou que 62,3% dos cariocas consideraram o nível de força adequado, número que chegou a 89,5% entre moradores de favelas.

A Genial/Quaest também investigou qual seria a atitude esperada de um policial ao encontrar um criminoso armado com um fuzil. Metade dos entrevistados afirmou que o agente deveria tentar prender, enquanto 45% defenderam o disparo imediato. A pergunta não especificava a postura do criminoso armado.

Os dados confirmam que a maioria dos entrevistados quer mais ações policiais semelhantes. A Genial/Quaest apontou que 73% dos moradores do estado são favoráveis à continuidade das operações. No Paraná Pesquisas, 67,9% também se declararam favoráveis. Até mesmo entre lulistas e eleitores de esquerda não lulista, o apoio superou a rejeição.

Apesar disso, os entrevistados reconhecem que a repressão policial, sozinha, não resolverá o problema do domínio das facções. Segundo a Genial/Quaest, 62% dos moradores do Rio acreditam que o governo estadual não tem condições de vencer o crime organizado por conta própria. Para 52%, o Rio ficou menos seguro após a operação e 74% temem retaliações do tráfico.

As pesquisas também indicam descrença no governo federal. A Genial/Quaest mostrou que 53% acham que Lula não tem ajudado os estados no combate às facções e 60% reprovam sua gestão na segurança. A avaliação negativa é ainda mais acentuada em outros levantamentos: no Paraná Pesquisas, apenas 14,2% avaliaram o desempenho do governo Lula como ótimo ou bom, enquanto 56,1% o classificaram como ruim ou péssimo. Na AtlasIntel, a rejeição chegou a 59%.

A frase de Lula durante viagem à Indonésia, afirmando que “os traficantes são vítimas dos usuários”, foi lembrada pelos pesquisadores. Mesmo com o recuo posterior do presidente, 60% dos entrevistados disseram acreditar que a fala reflete sua opinião real. Para 84%, a afirmação está equivocada.

A reação inicial de Lula à operação foi criticada, sobretudo após o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, declarar que o presidente estava estarrecido com o número de mortes. Guilherme Boulos chegou a pedir um minuto de silêncio pelas vítimas da operação em sua posse como ministro. Dias depois, o governo adotou um tom mais moderado. Em pronunciamento, Lula declarou que o crime organizado não pode continuar destruindo famílias, e apresentou um projeto de lei com medidas contra facções.

Metodologia

Paraná Pesquisas: 800 entrevistas no município do Rio de Janeiro em 30 de outubro. Margem de erro de 3,5 pontos percentuais.

Datafolha: 626 entrevistas por telefone entre os dias 30 e 31 de outubro. Margem de erro de 4 pontos.

AtlasIntel: 1.089 entrevistas online entre os dias 29 e 30 de outubro. Margem de erro de 3 pontos.

Genial/Quaest: 1.500 entrevistas presenciais no estado do Rio entre os dias 30 e 31 de outubro. Margem de erro de 3 pontos.