
O ex-assessor de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Tagliaferro, afirmou nesta terça-feira (2), em depoimento à Comissão de Segurança do Senado, que houve fraude processual em operação determinada pelo ministro contra empresários de direita em agosto de 2022. Tagliaferro participou por videoconferência da Itália. Ele vive em solo europeu desde que se tornou alvo de investigação. Durante as Eleições 2022, chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tido como nome de confiança de Moraes.
A audiência foi convocada a pedido dos senadores Magno Malta (PL-ES) e Eduardo Girão (Novo-CE). Ao abrir os trabalhos, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que preside a comissão, disse que o ex-assessor se tornou um “ícone da perseguição” promovida por Moraes. “Deus levanta improváveis para seus propósitos. Nesse processo há várias digitais de Deus. O senhor Eduardo Tagliaferro talvez seja hoje um dos maiores símbolos da nação, de demonstração de como um denunciante foi transformado em criminoso”, declarou.
Tagliaferro acusou Moraes de usar o gabinete no STF para perseguir políticos e empresários ligados à direita. Segundo ele, “só entravam no gabinete coisas para criminalizar a direita”. O ex-assessor afirmou ainda que guarda provas desde 2022 e agora está disposto a entregá-las. Ele relatou que a ordem de busca e apreensão contra oito empresários foi baseada em reportagem publicada pelo jornalista Guilherme Amado, do portal Metrópoles. De acordo com o depoimento, apenas três dias após a ação Moraes teria mandado elaborar um relatório com data retroativa para justificar a medida já executada.
Tagliaferro apresentou arquivos e minutas que, segundo ele, comprovariam a narrativa construída para sustentar os atos do ministro. Os senadores solicitaram cópia do material. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que os elementos expostos seriam “motivos suficientes para justificar o impeachment de Alexandre de Moraes”.
A operação de 23 de agosto de 2022 teve como alvos empresários que trocaram mensagens privadas com críticas ao STF e à possível volta do PT ao poder. Moraes considerou que os diálogos indicavam defesa de golpe de Estado. Posteriormente, o ministro arquivou as investigações contra seis dos oito investigados, por “patente ausência de justa causa”, mantendo os procedimentos apenas contra Luciano Hang e Meyer Joseph Nigri.
A Procuradoria-Geral da República denunciou Tagliaferro por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, violação de sigilo e obstrução de investigação. As acusações podem resultar em pena de até 22 anos de prisão. Os documentos apresentados pelo ex-assessor ficaram conhecidos como “Vaza Toga”, após reportagem de Glenn Greenwald na Folha de S.Paulo em agosto de 2024.
O gabinete de Alexandre de Moraes divulgou nota em resposta, afirmando que todos os procedimentos sobre milícias digitais e desinformação foram conduzidos de forma oficial, documentada e regular, com relatórios encaminhados à Polícia Federal e à PGR.