Uma ampla reportagem publicada neste sábado (19) pelo Financial Times revela que o governo do presidente Donald Trump alterou o eixo da missão militar norte-americana no Caribe. Antes centrada no combate ao tráfico de drogas, a operação agora mira a saída forçada do ditador Nicolás Maduro e de sua cúpula, segundo fontes da oposição venezuelana e analistas ouvidos pelo jornal britânico.
O envio de navios de guerra, caças e tropas especiais à região é descrito como a maior movimentação militar dos EUA na costa venezuelana em mais de 30 anos. Oficialmente, a ação começou como uma ofensiva contra embarcações suspeitas de tráfico. Apesar da rota inicial, de acordo com o FT, o manejo evoluiu para pressionar psicologicamente o alto escalão chavista, forçando renúncias ou entregas negociadas, sob ameaça de ações militares cirúrgicas.
Maduro vira alvo direto de captura
A reportagem afirma que o plano-mor envolve capturar Maduro de qualquer maneira, esteja ele vivo ou morto. Vanessa Neumann, empresária do setor de defesa e ex-representante da oposição com ligações no alto escalão de segurança dos EUA, afirmou ao jornal que a diretriz atual é clara: “Captura e remoção de Nicolás Maduro de qualquer maneira”. Fontes do Financial Times indicam que o presidente Trump tem evitado discutir oposição ao falar da Venezuela, com atenções voltadas aos resultados práticos. Um ex-integrante da Casa Branca ouvido pelo jornal disse que Trump “é um tático” e que a operação ainda está sendo moldada conforme as oportunidades surgem. O mandatário também teria confidenciado que Maduro “ofereceu tudo” para evitar uma escalada. “Ele não quer brincar com os Estados Unidos”, declarou.
Guerra psicológica e movimentação tática
O FT mostra que imagens de caças B-52, navios de guerra e helicópteros Black Hawk sobrevoando áreas próximas à Venezuela têm circulado nas redes sociais em larga escala, numa aparente operação coordenada para desestabilizar o regime de Maduro. Analistas citados pelo jornal enxergam nisso uma guerra informacional para elevar a tensão no círculo chavista.
Segundo relatos apurados pela reportagem, lideranças do regime venezuelano têm trocado de aparelhos celulares, alterado rotas noturnas de descanso e substituído os seguranças cubanos por novos agentes trazidos de Havana, em uma tentativa de escapar de monitoramentos e ações táticas.
Maduro tenta resistir, mas oposição aponta desgaste interno
Em resposta às ameaças americanas, Maduro ordenou exercícios militares em todo o país e iniciou uma série de visitas públicas em tom nacionalista. Apesar disso, o Financial Times mostra que empresários próximos ao regime descrevem um ambiente de paranoia e uma caçada a supostos traidores dentro das Forças Armadas e da polícia.
Um general venezuelano confirmou ao jornal que membros do governo têm se revezado entre cidades como Caracas, Valência e Maracay para evitar rastreamentos. Um policial ouvido relatou que há vigilância intensa sobre o que é dito nos corredores das instituições e nas redes sociais.
Forças Armadas frágeis e milícias
A reportagem indica que, apesar da retórica de força, os militares venezuelanos estão em más condições operacionais, com equipamentos sucateados e falta de peças. Ainda assim, Maduro conta com cerca de 1 milhão de milicianos armados, prontos para enfrentar uma eventual incursão.
O FT reporta avaliações distintas entre fontes ligadas ao chavismo e membros da oposição. Enquanto aliados do governo asseguram que o núcleo do regime segue coeso, opositores afirmam que parte da cúpula já considera entregar Maduro e negociar uma transição.
Maria Corina Machado, Nobel da Paz e possível sucessora
O Financial Times também menciona o papel de María Corina Machado, líder conservadora da oposição venezuelana, atualmente na clandestinidade. Recentemente laureada com o Prêmio Nobel da Paz, Machado é vista como possível líder de transição caso a queda de Maduro se concretize. Sua equipe aposta que a intervenção militar americana poderá abrir caminho para que Edmundo González, que é apontado como vencedor real das últimas eleições, assuma o governo com apoio internacional.
Risco de guerra civil
A matéria traz ainda a visão de empresários americanos com interesses na Venezuela. Um deles disse ao FT que Trump quer “petróleo, minerais e ouro”, e que sua prioridade é abrir o país para os investimentos dos EUA. Outros alertam que, sem um plano claro de transição, o país pode entrar em colapso, à semelhança da Líbia ou do Iraque após a intervenção ocidental.
Analistas da oposição rebatem, afirmando que a Venezuela não possui divisões sectárias que levem a conflitos prolongados. Para eles, o país tem maior coesão social e institucional que os exemplos citados.
Estados Unidos no Caribe
O Financial Times alerta que o tempo é um fator crítico para o alto escalão de Donald Trump. Manter tropas em estado de prontidão no Caribe custa caro e representa riscos logísticos, sobretudo em plena temporada de furacões, que vai até o fim de novembro.