TERRORISMO SOCIAL

Risco de morte: facção criminosa declara guerra a quem usar produtos Adidas

Símbolo da gigante esportiva vira ameaça letal em áreas dominadas pelo crime organizado; moradores relatam intimidações por parte do crime organizado.

Foto: João Malagutte
Foto: João Malagutte

As três listras que consagraram a Adidas como símbolo global do vestuário esportivo entraram no radar do crime organizado em Salvador. Na capital baiana, sobretudo no bairro da Pituba, o uso da marca tem sido interpretado como associação ao Bonde do Maluco (BDM), facção que atua na região.

De acordo com relatos obtidos pelo portal Correio, um comerciante foi abordado na Rua Pará após vestir uma camisa com o logotipo da marca. “Ele disse: ‘aí é três e aqui nós somos dois. Cuidado’. Troquei e voltei a trabalhar. Me senti ameaçado”, contou.

O ‘dois’ citado faz referência ao Comando Vermelho (CV), facção rival com base no Nordeste de Amaralina, área vizinha à Rua Pará. Diferentes sinais visuais e códigos associados à moda têm sido ressignificados dentro da lógica de disputas territoriais entre facções.

Outros casos têm sido registrados em outras localidades. Em Saubara, um jovem foi morto após vestir uma camisa com estampa do personagem Mickey Mouse, supostamente vinculada ao grupo A Tropa. Em Salvador, estudantes abandonaram uma escola após aderirem à tendência de desenhar três riscos nas sobrancelhas, que é sinal também associado ao BDM.

Foto: Fernando Frazão/ABr
Foto: Fernando Frazão/ABr

Em 2022, um adolescente foi executado no bairro de Águas Claras, em Salvador, após supostamente usar uma camisa com cores associadas a uma facção rival. No mesmo ano, outro jovem foi morto em Simões Filho, na Região Metropolitana, por estar com um boné cuja estampa remetia a um grupo criminoso adversário do que atua na localidade. Em diferentes bairros da capital, como São Cristóvão, Sussuarana e Nordeste de Amaralina, há registros de ameaças e expulsões de moradores e estudantes por conta de símbolos gráficos.

Em outubro de 2024, os irmãos Daniel Natividade (24 anos) e Gustavo Natividade (15 anos) foram assassinados em Camaçari (RMS de Salvador). As vítimas haviam posado para fotos fazendo o ‘sinal do 3’. Para os assassinos ligados ao Comando Vermelho (CV), foi interpretado como provocação.

O Conexão Política tenta contato com a Prefeitura de Salvador e com o Governo da Bahia para saber se há registros formais relacionados a ameaças, agressões ou mortes motivadas pelo uso de símbolos associados a facções criminosas na capital e em outras cidades do estado.

A nossa reportagem apura se as forças de segurança têm adotado medidas para conter a escalada dessas intimidações, como em áreas escolares, comerciais e de circulação pública. Até o momento, não houve retorno oficial.