‘Sou feirante, dei o que pude’: pai lamenta morte do filho em operação no Rio e diz que tentou afastá-lo do crime, mas ele não quis

Cláudio Lima, de 45 anos, perdeu seu único filho para o narcotráfico que domina o Brasil de ponta a ponta. Ele passou mais de 24 horas procurando pelo filho desaparecido após a megaoperação que deixou 121 mortos nas comunidades da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A busca terminou de forma brutal quando ele recebeu, por mensagem de WhatsApp, um vídeo com imagens de corpos no chão. Em meio aos rostos desfigurados, reconheceu o de Hércules Célio Lima, de apenas 23 anos.

A confirmação veio na manhã de quinta-feira (31), na região da Vacaria, uma área de mata que se tornou ponto comum de encontro de corpos desde o início da Operação Contenção. “Mesmo do jeito que estava, é o tipo de coisa que você não erra. Era ele”, disse Cláudio ao Globo, emocionado, enquanto aguardava do lado de fora do Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio.

Morador da Vila Cruzeiro, Cláudio tentou ao longo dos anos manter o filho longe do crime. Convidou o jovem para trabalhar com ele no sacolão onde sustenta a família, mas não teve sucesso. Por volta dos 18 anos, Hércules começou a se afastar da rotina familiar e a se aproximar de grupos criminosos ligados à facção Comando Vermelho, organização de caráter terrorista que atua com táticas típicas de guerrilha urbana no Rio de Janeiro e em outras regiões do país.

Durante cinco anos, Cláudio insistiu para que o filho mudasse de vida. “Eu sou feirante, o que eu tinha pra oferecer pra ele era isso. Ele não quis. Já era um homem, maior de idade, e respondia pelas próprias escolhas. Não entendo o porquê desse caminho. Pai nenhum quer ver o filho seguir assim. Mas era meu filho, era eu e ele. Agora, faço o quê?”, afirmou.

Atualmente, Hércules morava com a avó, mas pai e filho seguiam em contato frequente. O corpo foi liberado para sepultamento no final da quinta.

Segundo as polícias Civil e Militar, a Operação Contenção resultou em 121 mortes, sendo quatro policiais e 115 criminosos ligados ao tráfico. Além disso, 113 pessoas foram presas e 10 adolescentes apreendidos. As forças de segurança também confiscaram 118 armas, das quais 91 eram fuzis.