
O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), foi afastado do cargo por 180 dias após decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), atendendo a um pedido da Polícia Federal (PF) no âmbito da segunda fase da Operação Copia e Cola, deflagrada nesta quinta-feira (6). A medida tem caráter cautelar e ocorre em meio à investigação sobre supostas irregularidades em contratos públicos da área da Saúde no município.
Com o afastamento, o vice-prefeito Fernando Neto (PSD) assumirá interinamente o comando da prefeitura. A decisão inclui, além da suspensão de função pública, a proibição de contato com pessoas específicas e o bloqueio de bens de alguns dos investigados, com valor total estimado em R$ 6,5 milhões.
Investigação e operação da PF
A Operação Copia e Cola teve início em abril de 2024 e tem como foco uma organização social (OS) que, segundo a PF, seria responsável por um esquema de desvio de recursos públicos por meio de contratos firmados com a Secretaria de Saúde de Sorocaba.
Na primeira fase, os investigadores recolheram documentos, relatórios e comunicações que teriam revelado a participação de novas pessoas físicas e jurídicas no suposto esquema, motivando o novo desdobramento.
Nesta quinta-feira, a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão e dois mandados de prisão preventiva, expedidos pelo TRF-3. Entre os alvos está o empresário Marco Silva Mott, amigo pessoal do prefeito, apontado como possível lobista e intermediário de contratos suspeitos.
Segundo a Polícia Federal, há indícios de que o grupo atuava com fraudes em licitações e sobrepreço de contratos, direcionando verbas da Saúde municipal a empresas de fachada e a pessoas próximas a agentes públicos.
Defesa e posicionamentos
A defesa de Marco Silva Mott afirmou em nota que a prisão preventiva do empresário se baseia em “conjecturas e suposições da polícia judiciária” e classificou a medida como “desnecessária”. Os advogados sustentam que Mott “sempre esteve à disposição das autoridades” e que “já prestou esclarecimentos iniciais sobre todos os fatos”, acrescentando que levarão os argumentos ao tribunal “para corrigir os equívocos e elucidar a verdade dos acontecimentos”.
Por sua vez, Rodrigo Manga e sua gestão negam qualquer irregularidade diretamente relacionada ao prefeito. Em nota e por meio de publicações nas redes sociais, o chefe do Executivo afirmou estar sendo alvo de perseguição política e que não foi intimado previamente sobre a decisão judicial.
“Acredite se quiser, me afastaram do cargo de prefeito. Eu aqui em Brasília, ontem fui em frente ao Palácio da Justiça, falei que tem que colocar o Exército na rua, rodei o Congresso, os deputados me receberam super bem, falando: ‘Manga, cuidado, estão tentando aí’. O que a gente ouve de bastidores é que os caras tentam tirar do jogo qualquer um que ameaça a candidatura deles e você tem sido uma ameaça”, publicou.
A Prefeitura de Sorocaba também divulgou posicionamento, afirmando que “todas as contratações públicas seguem rigorosamente os trâmites legais e as recomendações dos órgãos de controle”. O Executivo municipal reforçou que “não há qualquer elemento que vincule o prefeito a eventuais irregularidades contratuais investigadas pela PF”.
Popularidade e trajetória política
Eleito em 2020 e reeleito nas eleições municipais de 2024, Rodrigo Manga ficou conhecido nacionalmente como o “prefeito tiktoker”, em referência à sua intensa presença nas redes sociais e ao estilo descontraído de comunicação com os moradores.
Antes de ingressar na política, Manga atuava como vendedor de veículos em uma concessionária de Sorocaba, onde ganhou popularidade com vídeos promocionais que o levaram a se destacar como figura pública local. Com formação em marketing, ele ampliou o alcance de suas redes após assumir a prefeitura, acumulando milhões de seguidores e se tornando presença frequente em programas de rádio e TV.
Seus conteúdos digitais, que misturam humor, prestação de contas e divulgação de obras municipais, foram decisivos para consolidar sua imagem de gestor próximo da população, embora também tenham gerado questionamentos do Ministério Público por possíveis casos de desinformação e autopromoção institucional.
Contexto político e impacto local
O afastamento ocorre em um momento em que Manga vinha sendo citado como possível nome competitivo para o Senado ou para cargos de projeção estadual. Internamente, aliados avaliam que a operação pode alterar o cenário político em Sorocaba e afetar a correlação de forças dentro do Republicanos e do PSD no estado de São Paulo.
A Câmara Municipal de Sorocaba foi oficialmente notificada sobre o afastamento e deve acompanhar os desdobramentos do processo, mas até o momento não há pedido de cassação ou de abertura de comissão processante.
Enquanto isso, a Polícia Federal mantém o sigilo de parte das investigações, e os autos seguem sob a competência do TRF-3, em São Paulo. Fontes próximas ao caso afirmam que novas diligências poderão ocorrer nas próximas semanas, com base nos materiais apreendidos nesta fase.
Conclusão provisória
Até o momento, não há denúncia formal contra Rodrigo Manga. O processo está em fase de investigação, e todas as medidas foram classificadas como cautelares, sem implicar reconhecimento de culpa.
Tanto o prefeito quanto sua equipe jurídica afirmam estar colaborando com as autoridades e que irão “provar a legalidade de todos os atos praticados pela administração”.