Mesmo considerando toda anormalidade numa situação de pandemia, as condições de trabalho no Hospital de Campanha do Maracanã, zona norte da capital fluminense, estão longe das ideais, relatam profissionais da unidade.
Por causa das dificuldades com insumos e falhas na gestão dos trabalhos, de administração da Organização Social (OS) Iabas, um dos alvos da Operação Placebo, muitos médicos estão pedindo demissão. Nesta terça, funcionários citaram seis demissionários ao jornal O Globo e uma médica afirmou ter desistido após dois plantões e a constatação de problemas com equipamentos, resultados de exames e coordenação de equipe.
A unidade, que quando tiver 100% de sua capacidade, oferecerá 400 leitos para pacientes com a covid-19, foi inaugurada no último dia 9, após nove dias de atraso. Ela é administrada pelo Instuto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), um dos alvos, assim como o próprio governador Wilson Witzel, da investigação sobre fraudes na compra emergencial de equipamentos para o enfrentamento da pandemia.
A impressão, segundo os profissionais, é de que “um avião está sendo montado em pleno voo”, em relação aos ajustes que são feitos no hospital de campanha durante o seu funcionamento. O cenário ruim já havia sido denunciado pela anestesista Priscila Eisembert, no último sábado, o que foi confirmado por outras pessoas.
“Mais do que a falta de insumos, a pior parte é a falha de organização. Sei que é uma situação extraordinária, mas algumas coisas são óbvias em qualquer gestão hospitalar, e não funcionam. Por exemplo, os resultados de exames nos laboratórios demoram muito para chegar, e eu dependo desse resultado para definir tratamentos. Às vezes um mesmo pedido para outro paciente chegava, o que não faz sentido, não é falta de insumo, é desorganização. A gente não sabe quem é o responsável pela coordenação, pelos fluxos. Tive uma paciente que estava com problema renal, pedi um exame e o resultado não saiu até acabar meu plantão de 12 horas. No plantão seguinte da minha colega, tampouco chegou. Ou seja, demorou mais de 24 horas para um exame simples, de sangue”, explicou a médica generalista.
“Claro que ninguém esperava a coisa mais organizada do mundo, mas acho que tudo tem um limite”, afirmou uma médica em entrevista ao O Globo.