PREFEITURA DE SP

Caso Kirk: Após pressão de Sonaira e alas da direita, gestão Nunes rompe contrato com Sustenidos

Funcionário da empresa é acusado de legitimar morte de Charlie Kirk, ativista conservador assassinado nos Estados Unidos.

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) determinou o rompimento do contrato com a organização social Sustenidos, responsável pela administração do Complexo Theatro Municipal de São Paulo.

A decisão, segundo o prefeito, foi motivada pela recusa da entidade em desligar um colaborador que publicou críticas sobre o assassinato do influenciador americano Charlie Kirk, assassinado em 10 de setembro durante evento nos Estados Unidos por um jovem ligado a movimentos de extrema esquerda.

O então funcionário da Sustenidos, Pedro Guida, divulgou uma publicação nas redes sociais, o texto dizia que não “se deve chorar por trumpista”. Na sequência, o post compara o ativista conservador americano a nazistas.

“É inaceitável. Manter uma pessoa que incentiva a violência é compactuar”, afirmou Nunes em entrevista. Segundo o prefeito, a administração municipal já vinha monitorando a atuação da Sustenidos, que foi alvo de determinações do Tribunal de Contas do Município (TCM) desde fevereiro de 2023, cobrando a realização de novo edital licitatório para o gerenciamento do espaço cultural.

Ainda de acordo com Nunes, “a prefeitura de São Paulo não admite esse tipo de comportamento. Seja em qualquer situação, em qualquer área, incentivar violência é algo que precisamos repudiar”.

A empresa terá 15 dias para apresentar defesa no processo de descredenciamento. Após a rescisão definitiva, a Fundação Theatro Municipal será responsável pela condução de nova licitação. Nunes afirmou que o processo seletivo levará em conta o histórico cultural das entidades e a conduta de seus colaboradores:

“Será verificado se não há pessoas que incentivam violência, ou seja, teremos todo o cuidado para garantir uma boa contratação.” A Sustenidos informou, por nota, que não irá se manifestar sobre o caso.

Tribunal de Contas apontou falhas no contrato

O TCM já havia determinado em 2023 que a prefeitura abrisse novo edital, alegando que dois pareceres técnicos apresentados pela Sustenidos não atendiam integralmente aos critérios exigidos. O órgão também identificou problemas na previsão orçamentária da organização, que teria incluído valores de provisionamento sem comprovação de aplicação nos fins previstos.

Na sexta-feira (19), a prefeitura foi novamente oficiada pelo tribunal, com prazo de 48 horas para apresentar informações sobre o novo chamamento público.

Postagens sobre Charlie Kirk

O estopim do cancelamento foi a recusa da Sustenidos em desligar um colaborador que, segundo a gestão municipal, fez publicações comemorando a morte de Charlie Kirk.

Kirk era um influente nome da direita americana, fundador da organização Turning Point USA, ligada à juventude conservadora e ao movimento Make America Great Again (MAGA). Ele foi assassinado durante um discurso na Utah Valley University. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lamentou o ocorrido publicamente.

Críticas da base conservadora

A rescisão ocorre também após pressão de parlamentares aliados à base conservadora da gestão Nunes. A vereadora Sonaira Fernandes (PL), presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal, tem cobrado uma reavaliação do papel da Sustenidos na gestão do Theatro.

Em entrevista exclusiva ao Conexão Política, Sonaira criticou o que classificou como “uso político e ideológico” do espaço.

“Eles tornaram o Theatro Municipal numa espécie de parque de diversões da extrema-esquerda, com pouco ou nenhum apreço pela arte. Deturpam obras e libretos clássicos para fazer politicagem, e isso quando não a realizam ostensivamente. Sob a batuta da Sustenidos, contratada na gestão do então secretário de Cultura Alê Youssef, o MTST passou pelo palco do Theatro Municipal e foi exibida a estátua do Borba Gato em chamas, só para citar dois exemplos de absurdos. E, como quem lacra não lucra, em 2023 a entidade registrou um prejuízo de R$ 13,3 milhões. Dinheiro do povo paulistano”, disse Sonaira.

“Quem busca justificar a morte de adversários políticos não pode receber um centavo do pagador de impostos.”

Questionada sobre a possibilidade de a comissão da qual preside realizar uma audiência pública sobre o caso, Sonaira admitiu ser “uma possibilidade que merece o nosso estudo”.

Novo edital e critérios para seleção

A parlamentar também defende critérios mais rígidos no próximo edital, com exclusão de entidades que tenham perfil militante.

“Defendo que entidades militantes e partidárias sejam excluídas do edital. A arte, quando panfletária, deixa de ser arte e se transforma, tão somente, num proselitismo arrogante e constrangedor. O Theatro Municipal e a cultura brasileira merecem bem mais do que militantes que, em seu delírio, acham que são artistas”, emendou Sonaira Fernandes.

Funcionário nega acusações

Por meio das redes sociais, Pedro Guida fez um pronunciamento e disse que os conteúdos não foram devidamente compreendidos.

“Um compartilhamento meu em um story gerou uma impressão totalmente equivocada sobre os meus valores e o que eu defendo. De forma nenhuma eu comemoraria a morte de alguém, muito menos por forma violenta, tendo eu mesmo já perdido parentes e amigos em situações de violência”, escreveu Guida.

“Entendo agora que o vídeo compartilhado dava uma impressão ambígua, pois misturava um debate sobre a morte dele com uma lista de valores que ele defendia, dos quais eu discordo, como defesa do porte de armas, declarações de que mulheres não deveriam ter uma carreira, declarações de que uma juíza negra na Suprema Corte está lá apenas por ser negra, sendo que ela tem um currículo incontestável, declarações de que a cultura ocidental é superior a outras culturas, declarações de frases ligadas ao movimento nazista, entre outros”, escreveu o funcionário da Sustenidos, que permanece ligado à companhia.