BIOMA EM CHAMAS

Discurso verde de Lula desmorona com recorde de incêndios na Amazônia

Brasil perdeu 30 milhões de hectares por causa de queimadas em 2024.

Pela 4ª vez consecutiva, desmatamento no cerrado bate recorde da série histórica
Foto: Marcelo Camargo/ABr

A Amazônia registrou, em 2024, o maior volume de queimadas desde 1985, conforme apontam os dados do Relatório Anual do Fogo (RAF), elaborado pelo MapBiomas e divulgado nesta terça-feira (24). De acordo com o levantamento, 15,6 milhões de hectares do bioma amazônico foram devastados pelas chamas, o que representa um aumento de 117% em comparação com a média histórica registrada desde o início da série.

Os dados trazem um duro golpe para a narrativa ambiental do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), especialmente em um ano em que o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, capital do Pará, no fim do ano. O bioma amazônico respondeu sozinho por mais da metade de toda a área queimada no território nacional em 2024.

Pela primeira vez em quase 40 anos, a vegetação florestal da Amazônia ultrapassou as pastagens no ranking dos ecossistemas mais atingidos pelo fogo, somando 6,7 milhões de hectares consumidos pelas chamas, contra 5,2 milhões registrados em áreas destinadas à pecuária. Segundo o relatório, quase 25% da área total do país já foi atingida por queimadas pelo menos uma vez entre 1985 e 2024 — uma extensão territorial semelhante à soma dos estados do Pará e Mato Grosso.

Somando as últimas quatro décadas, o fogo já atingiu cerca de 206 milhões de hectares em todo o Brasil. Apenas em 2024, o país perdeu 30 milhões de hectares, número 62% superior à média histórica de 18,5 milhões ao ano. O relatório também alerta que 43% das áreas queimadas desde 1985 tiveram sua última ocorrência nos últimos dez anos, evidenciando uma tendência de agravamento nos incêndios florestais mais recentes.

Além da Amazônia, o Cerrado continua sendo um dos biomas mais vulneráveis. Em 2024, foram 10,6 milhões de hectares queimados na região, representando 35% do total nacional. O número supera em 10% a média anual observada nas últimas décadas. O crescimento da recorrência nos incêndios do Cerrado também impressiona: foram 16 vezes mais registros nos últimos 40 anos.

Três estados concentram quase metade das áreas queimadas no país desde 1985: Mato Grosso, Pará e Maranhão respondem juntos por 47% da devastação registrada nesse período.

A situação também se agravou em outros biomas. A Mata Atlântica, por exemplo, teve no último ano a maior área queimada desde o início da série histórica, somando 1,2 milhão de hectares — um salto de 261% em relação à média. Já o Pantanal enfrentou um aumento de 157% nas queimadas, com focos severos especialmente na região do Rio Paraguai, onde a seca tem sido intensa desde a última cheia significativa, ocorrida em 2018.

Em contrapartida, a Caatinga e o Pampa apresentaram queda nos registros de incêndios em 2024. Segundo especialistas, essa redução está associada à influência das chuvas trazidas pelo El Niño. No entanto, os pesquisadores alertam que essa diminuição é momentânea e não representa uma tendência duradoura de melhora nas condições ambientais desses biomas.