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Entrevista: Manzoni vê escândalo do INSS como divisor de águas e fala em ‘projeto nefasto’ do PT

Com exclusividade ao Conexão Política, parlamentar diz que Lula deve ser candidato em 2026 e aponta ‘perseguição judicial sistemática’ contra Bolsonaro e a direita.

Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni
Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni

O deputado federal Thiago Manzoni (PL-DF) afirmou que o escândalo de corrupção no INSS pode se tornar um marco de enfraquecimento do governo Lula e vê o caso como o maior esquema contra aposentados da história recente do país.

Em entrevista exclusiva ao Conexão Política, o parlamentar avaliou que a perda da presidência e da relatoria da CPMI pelo governo representa uma derrota política.

Segundo ele, a condução da comissão abre caminho para uma investigação independente sobre o chamado ‘aposentão’ e pode aumentar o desgaste do Planalto.

“Esses ladrões dos aposentados foram blindados pelo sistema, inclusive pelo Poder Judiciário. O que eu espero é que haja uma investigação de verdade e que essas pessoas paguem pelo que fizeram”, declarou.

Governo sem base e perda de articulação

Manzoni disse que o governo Lula enfrenta sucessivos reveses no Congresso por não conseguir consolidar uma base. Ele afirmou que partidos de centro rejeitam a agenda do PT e citou a aproximação de Lula com regimes autoritários.

“O governo Lula não tem base. O petismo, o esquerdismo, esse socialismo, é tóxico. Cuba, Venezuela, Nicarágua: nada de positivo. Os partidos pegam ministérios, mas não entregam votos”, observou.

Para o parlamentar, Lula “não tem mais paciência para governar” e insiste em repetir métodos de 2003, ignorando mudanças no cenário político até 2025.

Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni
Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni

Candidatura de Lula e situação de Bolsonaro

Questionado sobre 2026, Manzoni avaliou que Lula deve ser candidato e tem chances de vitória, mas apontou que Bolsonaro enfrenta perseguição judicial.

“O Bolsonaro está inelegível por conversar com embaixadores e subir em caminhão de som. Isso é um golpe contra a democracia”, disse. “Na última eleição, com tudo contra ele, teve 60 milhões de votos. Como pode não concorrer?.”

O deputado considera o julgamento contra Bolsonaro uma “sentença pronta”, alegando que há parcialidade no processo conduzido pelo STF.

Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni
Foto: Jeremias Alves/Thiago Manzoni

Sanções internacionais e críticas ao Supremo

Manzoni também comentou as sanções impostas por Washington a ministros do STF e autoridades brasileiras. Ele comparou a medida ao que ocorreu na Venezuela em 2017, quando magistrados perderam vistos nos Estados Unidos.

“A maior democracia do mundo não vê mais o Brasil como Estado de Direito. O tarifaço é o início de um embargo. O país está sendo sancionado porque a nossa Suprema Corte viola direitos humanos”, declarou.

Ele citou como exemplos de abusos as prisões decorrentes do 8 de janeiro, mencionando o caso de Cleriston, morto na prisão, e de Jussilene, agredida sob custódia.

Leia a íntegra da entrevista abaixo.

Magnani: O governo Lula estava certo de que levaria de lavada a presidência da comissão e, consequentemente, a relatoria, para abafar toda a situação envolvendo o escândalo. Como o senhor viu essa reviravolta e como espera que a CPMI se comporte a partir de agora?

Manzoni: O roubo dos aposentados é o maior escândalo de corrupção, até agora, do governo Lula 3. O PT trouxe para o Brasil o mensalão, o petrolão e agora o “aposentão”. Esses ladrões dos aposentados foram blindados pelo sistema — inclusive pelo Poder Judiciário. Agora, no Congresso Nacional, o governo teve essa derrota acachapante e inesperada, e perdeu tanto a presidência quanto a relatoria. O que eu espero é que haja uma investigação de verdade e que essas pessoas paguem pelo que fizeram. Isso é uma luz no fim do túnel para o povo brasileiro, e deve acender um sinal de alerta no governo do PT, porque esse escândalo pode fazer ruir mais um governo petista por corrupção.

Magnani: Em mais uma atrapalhada, o governo vem acumulando revezes no Congresso há muito tempo. Mais uma vez, o próprio líder do governo, Randolfe Rodrigues, assumiu a culpa pela falta de articulação. Como o senhor enxerga esse momento do governo Lula?

Manzoni: O governo Lula não tem base. Os partidos se distanciam do PT porque o petismo, o esquerdismo, esse socialismo, é tóxico para os países onde foi implementado. Olha Cuba: o que tem de bom? Nada. Venezuela? Nada. A classe média fugiu de lá e está nos sinais de Brasília pedindo esmola. Os pobres estão morrendo de fome. O Lula é amigo de ditadores da Nicarágua, onde padres e freiras são presos —, amigo de Maduro, do Irã, do Hamas. Os partidos que não são de esquerda veem isso como tóxico. Pegam seus espaços no governo, assumem ministérios, mas não entregam. Não querem que o Brasil vire o que esses países viraram. Além disso, o Lula não tem mais paciência para governar. Ele acha que 2025 é igual a 2003. O PT governou de 2003 a 2025, com o intervalo do Bolsonaro. E ainda quer dizer que tudo é culpa do Bolsonaro? Não dá. O Centrão não quer se comprometer com esse projeto nefasto do PT. Recebem os cargos, mas não entregam o que o governo precisa.

Magnani: O senhor acredita que o Lula será candidato no próximo ano?

Manzoni: Acho que vai. E, infelizmente, acho que existe uma chance real de vitória. Porque, na minha visão, o sistema vai repetir o que fez em 2022. O mesmo modus operandi que tirou o Lula da cadeia para colocá-lo na Presidência vai se repetir em 2026.

Magnani: O ex-presidente Bolsonaro tem dito que tentará, a qualquer custo, reverter essa situação. O senhor acredita que isso será possível?

Manzoni: Hoje, o Bolsonaro é a maior vítima da perseguição política no Brasil, porque é o maior representante da direita. E, por isso, é o mais perseguido. O julgamento por uma tentativa de golpe que nunca aconteceu começa dia 2 de setembro. Esse processo, na minha visão, já tem sentença pronta. Não interessa o que a defesa apresente. O Cid mudou a delação dez vezes, as câmeras do Ministério da Justiça sumiram, mas nada disso importa. Ele está sendo julgado pelo ex-advogado do Lula, pelo ex-ministro da Justiça do Lula, e pelo Alexandre de Moraes, desafeto pessoal dele. Isso deveria importar. O que se pratica contra o Bolsonaro é injustiça. Como achar que ele será candidato em 2026? Está inelegível por conversar com embaixadores e subir em caminhão de som? O sistema vai autorizar a candidatura do único que é contra ele? Muito difícil. E lamento que o Brasil esteja sofrendo esse golpe. É um golpe contra a democracia. Na última eleição, com tudo contra ele, o Bolsonaro teve 60 milhões de votos. Sessenta milhões! E ele não pode concorrer? É extremamente injusto. Mas, hoje, não vejo cenário para reversão.

Magnani: Deputados bolsonaristas foram aos Estados Unidos articular sanções contra ministros do STF e aliados do governo. Nesta semana, por exemplo, o jornalista Paulo Figueiredo anunciou que Ricardo Lewandowski e Rodrigo Pacheco tiveram os vistos cancelados. Como o senhor avalia esses movimentos?

Manzoni: O que acontece é que a maior democracia do mundo não vê mais o Brasil como Estado de Direito. O país está sendo sancionado porque, segundo os EUA, nossa Suprema Corte viola direitos humanos. Isso ficou claro na carta do presidente Trump sobre o tarifaço. Estamos vivendo um dos piores momentos da nossa história recente. O tarifaço é o início de um embargo. Ministros do STF foram sancionados com base na Lei Magnitsky. Isso aconteceu na Venezuela em 2017. Lá, 8 de 11 ministros perderam o visto. Aqui, isso mostra que escolhemos o caminho errado, e que o Estado de Direito precisa ser restaurado. O Executivo parece apoiar tudo isso. É parte do projeto do Foro de São Paulo, que o próprio Lula sempre defendeu. O mais grave é que os demais poderes se calam. No caso da “Vaza Toga”, vimos presos por postagens nas redes, não por quebra-quebra. O Cleriston morreu preso mesmo após a PGR pedir soltura. Isso é violação clara de direitos humanos. Quantas Jussilenes existem hoje? A dona Jussilene foi agredida reiteradamente. Por quê? Por estar em Brasília no dia 8 de janeiro. Provaram que ela quebrou algo? Houve individualização de conduta? Dosimetria? Não. Tudo foi crime de multidão, que nasceu como atenuante. Agora, virou agravante. Estão tratando todos como golpistas. O Senado tem pedido de impeachment de Moraes assinado por mais da metade dos senadores. E o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, não abre o processo. Isso é grave. Países que deixam de ser democracias são sancionados. A história mostra isso. E aqui, infelizmente, o regime está se intensificando.

Magnani: Foi reportado na imprensa o bloqueio físico das mesas da Câmara e do Senado. Um dos alvos é Davi Alcolumbre, exatamente por isso que o senhor apontou. O senhor acha que a oposição surtirá algum efeito ou que ele não levará adiante nada do que a oposição pede?

Manzoni: Ele já disse expressamente que nem se os 81 senadores assinarem ele vai pautar. Isso mostra um descompasso entre a atitude dele e o cargo que ocupa. O presidente do Senado deve respeitar a instituição que representa. O patrono do Senado é Rui Barbosa. Ver esse tipo de declaração é triste. Mostra que os parlamentares estão de mãos atadas. Se 41 senadores pedem impeachment, e ele se nega só porque quer, ele desrespeita o cargo e o Senado. Hoje, infelizmente, não vejo como as atitudes da oposição vão mudar esse cenário.

Magnani: Bolsonaro sempre repete que 2026 é pontual para mudar os rumos do Brasil. Ele diz: “Me deem 50% da Câmara e do Senado que eu mudo o destino do Brasil”. Como o senhor vê a articulação da direita para eleger senadores e mudar o cenário atual? E, no DF, especificamente?

Manzoni: Eu não tenho dúvida de que a direita é majoritária na urna. A dúvida é se teremos candidatos de direita competitivos nos estados. As eleições majoritárias envolvem alianças com candidatos a governador, vice, Senado. Isso dificulta. Mas, se tivermos candidatos bons, o povo entrega o Senado conservador. No DF, Bolsonaro teve 60% dos votos. Teremos duas vagas ao Senado. Se PL lançar dois conservadores — como Michelle Bolsonaro e Bia Kicis —, há chance de vencer. Mas o governador Ibaneis também é pré-candidato, tem força, é bem avaliado. Também há o desembargador Sebastião Coelho, pré-candidato pelo Novo, que pode captar votos da direita. Dá pra ganhar com dois candidatos do PL? Dá. Mas precisa conversar com outros partidos. Tenho certeza de que Bia e Michelle estão fazendo esse trabalho, e a construção que vier será a melhor para o DF.

Magnani: Quais suas considerações finais?

Manzoni: Alexandre, acho que o povo brasileiro precisa refletir: que país queremos construir? Um país da censura? Uma ditadura velada? Um país onde o partido que cometeu os maiores escândalos de corrupção segue no poder? Queremos um país onde quem vende arma pro Comando Vermelho pega seis anos, mas quem escreve de batom numa estátua pega quatorze? É isso que queremos? Chegou a hora de decidir: vamos abandonar o Brasil, como fizeram milhões de venezuelanos, ou vamos lutar? A minha decisão, como pai de família, já foi tomada. Estou lutando com tudo que tenho pelo meu país, pelos meus filhos, pelos meus netos que ainda virão. E espero que essa seja a decisão de todo brasileiro. Ainda podemos ir às ruas. Mas é enquanto ainda podemos.