CRISE DIPLOMÁTICA

Governistas admitem, nos bastidores, que escalada de Rubio por Trump não foi um bom sinal

Alto escalão adota tom otimista e institucional, mas prevalece a preocupação diante de barreiras vistas como irreversíveis ou de difícil mudança.

Foto: Marcelo Camargo/ABr
Foto: Marcelo Camargo/ABr

A conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump, realizada por videoconferência nesta segunda-feira (6), contou com a presença de ministros e durou cerca de 30 minutos, sendo descrita como ‘positiva’ pelo governo brasileiro.

Apesar do tom cordial, a escolha do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, como interlocutor direto nas negociações com o Brasil, abriu ponto de preocupação entre analistas políticos e diplomatas. Conhecido por uma postura integralmente contrária a regimes de esquerda na América Latina, Rubio mantém uma linhagem de críticas abertas a governos e regimes alinhados ao socialismo, além de histórico de posicionamentos contra o presidente brasileiro.

Rubio, cuja família migrou de Cuba após a ascensão de Fidel Castro, carrega forte influência do anticomunismo em sua atuação política. Desde o início do governo Trump, é visto como uma das vozes mais ferrenhas contra lideranças que ele identifica com o espectro ideológico de esquerda, incluindo o próprio Lula. Ele também já ligou Lula ao campo comunista latino-americano.

Desde que Trump externou a escolha, observadores passaram a sinalizar que o nome de Rubio pode representar um entrave às tratativas ou, ao menos, gerar desconfiança quanto à efetividade de um canal técnico e diplomático. No entanto, há quem veja na nomeação um sinal da força de comando de Trump, com possibilidade de que o secretário alinhe seu discurso à estratégia presidencial, caso o chefe do Executivo norte-americano deseje avançar nas tratativas com o Brasil.

A reunião presidencial teve caráter institucional e contou com a participação dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), o que reduz o risco de mal-entendidos ou manobras de bastidor. O gesto também é interpretado como uma tentativa de esvaziar a tensão provocada pelo tarifaço de até 50% sobre produtos brasileiros, além das sanções contra autoridades do país.

Para interlocutores do Itamaraty, o caminho para a resolução do impasse continua sendo o diálogo, ainda que haja incertezas quanto ao comportamento da diplomacia americana sob a liderança de figuras como Rubio. Enquanto isso, a expectativa do governo brasileiro é de que as conversas evoluam e tragam soluções práticas, capazes de restabelecer a normalidade nas relações bilaterais e afastar os efeitos da instabilidade gerada pelas medidas recentes.