Foto: Ricardo Stuckert/PR
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo federal tem intensificado a contratação de influenciadores digitais para divulgar ações institucionais e programas sociais. O Planalto decidiu aumentar o alcance das mensagens oficiais, sobretudo entre públicos mais jovens e em segmentos-chave como cultura e entretenimento.

Em setembro, os gastos com anúncios políticos do governo na plataforma Meta (Facebook e Instagram) atingiram R$ 8,4 milhões, segundo dados públicos, que representa aumento de 360% em relação ao bimestre anterior, quando o investimento foi de R$ 4,7 milhões. O volume coloca o governo Lula como o principal patrocinador de conteúdo político impulsionado no país.

A tática repete modelos já adotados por outras instituições de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Supremo Tribunal Federal (STF), que também vêm promovendo eventos com influenciadores. Em agosto, por exemplo, 26 criadores de conteúdo foram convidados pelo STF a visitar a Corte em Brasília. Em outubro, o PT realizou o seminário PTech com foco na atuação digital do partido.

Conteúdo pago e alinhamento político

A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) não detalhou os critérios, valores ou períodos de contratação dos influenciadores. Isso abriu uma série de críticas da oposição. Os questionamentos aumentaram após a tramitação do projeto de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil, assunto promovido por diversos criadores contratados.

Alguns influenciadores mantêm perfis neutros, tratando de humor, cultura regional ou cotidiano. É o caso do publicitário PV Freitas e da atriz Isis Vieira, com conteúdos voltados ao Nordeste e ao Norte.

Outros nomes adotam abordagem mais política ou analítica, mesmo que nem sempre de forma explícita, como os criadores como Lauany Schultz, Carolline Sardá, Laura Sabino, Thiago Foltran, Beatris Brantes e Martina Giovanetti. Parte deles já tinha histórico de apoio ao governo ou de críticas à direita antes de estabelecer parcerias.

Presença institucional e ativismo digital

Além das postagens nas redes sociais, muitos desses influenciadores participam de eventos promovidos ou apoiados pelo governo, como a conferência “Desperta 2025”, do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), e encontros como o realizado na Usina Binacional de Itaipu. Alguns também colaboram com movimentos sociais e sindicatos aliados, como o MST e entidades ligadas à Petrobras.

Entre os conteúdos divulgados, estão programas como o Luz para Todos, a defesa da reforma do IR, críticas à atuação da oposição, além de comentários elogiosos a figuras públicas como Lula e ministros do STF. Há também críticas pontuais a temas sensíveis, mas em geral os influenciadores mantêm postura de apoio à gestão federal.

Reações e críticas

A oposição questiona a legalidade e a finalidade desses contratos, sobretudo diante do uso de recursos públicos para impulsionar conteúdos que, em alguns casos, ultrapassam o caráter informativo e assumem tom ideológico. Os parlamentares pedem explicações da Secom sobre o uso da verba pública em ações que envolvem promoção pessoal, defesa do governo e críticas a adversários políticos.

Até o momento, o Palácio do Planalto não respondeu oficialmente aos pedidos de esclarecimento.