
O Brasil decidiu excluir os Estados Unidos da reunião “Democracia Sempre”, evento internacional que ocorrerá na próxima semana, em Nova York, paralelamente à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). A medida, já em tom inflamado, deve abrir um novo distanciamento diplomático entre os dois países.
A cúpula, criada em 2023 por iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, ocorrerá pela segunda vez neste ano. O presidente brasileiro embarca para os Estados Unidos neste domingo (21) e será o primeiro a discursar na abertura oficial da Assembleia da ONU, na terça-feira (23), conforme tradição brasileira.
Embora os EUA tenham participado da edição anterior, ainda sob o governo Joe Biden, com a presença de um representante de segundo escalão do Departamento de Estado, não estão entre os cerca de 30 países convidados para esta edição. Estão confirmados países como Uruguai, Colômbia, Chile, Alemanha, França, Canadá, Noruega, México, Quênia, Senegal e Timor Leste. O secretário-geral da ONU, António Guterres, também participará do evento, representando a União Europeia.
Informações do jornal Folha de S.Paulo reportam que um integrante do governo brasileiro justificou a exclusão com o argumento de que “apenas países democráticos foram convidados”. Ainda de acordo com a fonte, os EUA não preencheriam mais os critérios diante da “virada extremista” e do suposto questionamento da legitimidade das eleições brasileiras por parte do atual governo norte-americano. Segundo ele, não há condições para a presença de um país “que teve uma virada extremista e cujo governo está questionando a democracia e as eleições brasileiras”.
A agenda da reunião inclui debates sobre a defesa da democracia, o combate à desinformação e a regulação das big techs, assunto que encontra resistência explícita do presidente Donald Trump. O mandatário norte-americano rejeita medidas de intervenção e moderação de conteúdo nas plataformas digitais, além de estar ameaçando impor tarifas comerciais contra blocos que apoiem esse tipo de regulação, como a União Europeia.
Na edição anterior, Lula e Sánchez apontaram como exemplo de ameaça à ordem democrática os atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, e a invasão do Capitólio dos EUA em 2021. Ambos as ações foram listadas como sinais de movimentos que rejeitam a alternância de poder, a diversidade e defendem uma identidade nacional excludente.
O Conexão Política procurou a Casa Branca para comentar a decisão do governo brasileiro, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado em caso de manifestação oficial.