OPERAÇÃO CARBONO OCULTO

PCC controla 40 fundos de investimentos com patrimônio acima de R$ 30 bilhões

Organização criminosa usa estruturas financeiras na Faria Lima para ocultar patrimônio e movimentar bilhões no setor de combustíveis, aponta Receita Federal.

Foto: Rovena Rosa/ABr
Foto: Rovena Rosa/ABr

A Receita Federal informou nesta quarta-feira (27) que identificou ao menos 40 fundos de investimentos — entre multimercados e imobiliários — controlados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Segundo os auditores, os fundos eram fechados, geralmente com apenas um cotista, o que permitia criar camadas de ocultação de recursos.

De acordo com a investigação, o esquema financiou a compra de um terminal portuário, quatro usinas produtoras de álcool (além de outras duas em negociação), 1.600 caminhões para transporte de combustíveis e mais de 100 imóveis em diferentes regiões do país. Entre os bens identificados, estão seis fazendas no interior paulista, avaliadas em R$ 31 milhões, e uma residência em Trancoso (BA), adquirida por R$ 13 milhões.

Uma das principais fintechs envolvidas funcionava como “banco paralelo” da facção, movimentando sozinha R$ 46 bilhões em operações não rastreáveis no período analisado.

Empresas envolvidas

Entre as companhias citadas como parte da rede de lavagem de dinheiro estão:

  • Grupo Aster/Copape, dono de usinas, distribuidoras e rede de postos;
  • BK Bank, fintech usada para movimentar valores por meio de contas não rastreáveis;
  • Reag, fundo de investimentos envolvido em aquisições e blindagem patrimonial.

Segundo a Receita, as estruturas também financiaram importadoras responsáveis por adquirir no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel, que eram vendidos em mais de 1.000 postos de combustíveis distribuídos em dez estados: São Paulo, Bahia, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Piauí, Rio de Janeiro e Tocantins.

Esquema de lavagem

Os auditores explicam que os postos funcionavam como pontos de entrada do dinheiro em espécie ou de transações via maquininhas de cartão, que eram repassados à organização criminosa por meio de contas bancárias vinculadas.

Entre 2020 e 2024, os investigados importaram mais de R$ 10 bilhões em combustíveis e movimentaram R$ 52 bilhões por meio da rede de postos. O recolhimento de tributos, porém, foi considerado incompatível com o volume das atividades.

Além disso, cerca de 140 postos não registraram qualquer operação no período, mas receberam mais de R$ 2 bilhões em notas fiscais de combustíveis, apontando para aquisições simuladas com o objetivo de esconder transações ilícitas.

Até o momento, os estabelecimentos já foram autuados em mais de R$ 891 milhões pela Receita Federal.