CRISE INSTITUCIONAL

‘Não existe possibilidade de recuar nem um milímetro’, diz Moraes ao Washington Post

Ministro do STF concedeu entrevista ao jornal norte-americano após perder visto, ser incluído na lista da Magnitsky e ver Trump impor tarifa de 50% ao Brasil.

Foto: Paulo Pinto/ABr
Foto: Paulo Pinto/ABr

O ministro Alexandre de Moraes afirmou que não vai ceder às pressões externas após o governo dos Estados Unidos, sob Donald Trump, adotar medidas contra ele. Além da revogação de seu visto de entrada no país e da inclusão na lista da Lei Magnitsky, Washington impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sob a justificativa de violações de direitos humanos relacionadas a investigações envolvendo Jair Bolsonaro e aliados.

“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, disse Moraes, em entrevista ao Washington Post, concedida em seu gabinete.“Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido”, alegou.

O jornal descreveu o ministro como “xerife da democracia” e listou decisões que ampliaram seu protagonismo, como a suspensão do X/Twitter no Brasil, que motivou críticas de Elon Musk, e a destituição do governador do Distrito Federal após os atos de 8 de janeiro de 2023. A publicação sustenta que, ao determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro e proibi-lo de usar redes sociais, Moraes “silenciou uma das figuras da direita global mais conhecidas do mundo”.

O Washington Post ouviu 12 amigos e colegas do magistrado. Parte os descreveu como essencial para conter riscos autoritários, enquanto outros avaliaram que ele se tornou “poderoso demais”. Moraes rebateu: “O Brasil foi infectado pela doença do autoritarismo, e meu papel é aplicar a vacina”.

A reportagem também lembrou que, em 2019, o então presidente do STF, Dias Toffoli, pediu que Moraes conduzisse o inquérito das fake news, investigação que o jornal classificou como ‘ruptura’, já que a Corte “tradicionalmente não tem autoridade para abrir apurações próprias”. O ministro afirmou que a compreensão americana sobre democracia difere da brasileira. “Lá nunca houve golpe; aqui tivemos décadas de ditadura.”

Segundo a matéria, Moraes concentrou a condução dos inquéritos contra Bolsonaro e seus apoiadores, além de ter presidido o TSE em 2022, quando comandou processos que levaram à inelegibilidade do ex-presidente. Questionado se acumula poder excessivo, respondeu que mais de 700 de suas decisões foram revisadas pelos colegas de Supremo e ‘nenhuma’ foi derrubada.

O ministro também atribuiu a crise diplomática às narrativas de opositores. “Essas narrativas falsas envenenaram a relação, apoiadas por desinformação espalhada nas redes sociais, inclusive por Eduardo Bolsonaro.” Moraes disse acreditar que a tensão com Washington é ‘temporária’ e inspirou-se em referências da história constitucional americana, como John Jay, Jefferson e Madison.

“É agradável passar por isso? Claro que não”, afirmou. “Mas enquanto houver necessidade, a investigação vai continuar”, finalizou.