FESTA RELIGIOSA

Tradição dos tapetes marca ações católicas de Corpus Christi

Solenidade rememora a presença real de Cristo na Eucaristia. Em todo o país, fiéis produziram tapetes ornamentais que revestiram os caminhos das procissões.

Foto: Paulo Pinto/ABr
Foto: Paulo Pinto/ABr

Milhões de católicos se reuniram nesta quinta-feira (19), feriado de Corpus Christi, para participar das celebrações que tomaram conta de ruas, praças e igrejas em todo o Brasil. Uma das tradições mais pontuais da data — a confecção de tapetes religiosos — foi mantida com muito temor por fiéis de diversas idades e regiões, reforçando o caráter simbólico, espiritual e comunitário da solenidade.

Na capital federal, a Esplanada dos Ministérios se transformou em um grande corredor de fé. Desde as primeiras horas da manhã, grupos da Arquidiocese de Brasília iniciaram a montagem dos tapetes, que exibiam ilustrações alusivas a pontos centrais do catolicismo, como o sacramento da Eucaristia, o “coração eucarístico” cercado por espinhos (em referência à paixão de Cristo), cruzes, cálices, cordeiros, hóstias consagradas e a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Em cidades como Natal (RN), a dedicação também foi intensa. Na Paróquia Nossa Senhora da Candelária, mais de 40 pessoas se envolveram na montagem dos tapetes ao longo de dois dias. Os desenhos, elaborados com cuidado e devoção, incluíram representações de passagens bíblicas, ícones litúrgicos e símbolos cristãos, seguindo uma programação organizada que culminou com missas, procissões e bênçãos comunitárias.

Tradição de Corpus Christi

A tradição de confeccionar os tapetes teve origem em Portugal e foi incorporada ao Brasil no período colonial. Inspirada na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém — quando os fiéis cobriram seu caminho com ramos e mantos, conforme relatado no Domingo de Ramos —, a prática foi adaptada para as celebrações de Corpus Christi, que em latim significa “Corpo de Cristo”. A solenidade é considerada uma das mais importantes do calendário litúrgico da Igreja Católica, por remeter à presença real de Cristo na Eucaristia.

As obras, que costumam medir cerca de 5 metros de comprimento por 4 de largura, são feitas com diversos materiais: serragem colorida, sal tingido, areia, flores, cascas de ovo, tampinhas plásticas, pó de café e até borra de café. Os elementos utilizados variam conforme a criatividade e disponibilidade dos participantes, mas todos têm como objetivo homenagear a passagem do Santíssimo Sacramento.

Durante a procissão, o sacerdote conduz a hóstia consagrada em um ostensório — objeto litúrgico usado para a exposição e adoração do Santíssimo —, e os tapetes só são percorridos após sua passagem, como forma de respeito e reverência. Essa é, inclusive, a única procissão do calendário católico em que o Santíssimo Sacramento é levado pelas ruas, simbolizando a presença de Cristo fora do templo, junto ao povo.

A preparação dos tapetes começa frequentemente durante a madrugada, envolvendo famílias inteiras, crianças, jovens, idosos e integrantes de comunidades e movimentos religiosos. Para além da expressão artística e devocional, o momento se torna também um espaço de convivência e cooperação, com rezas, cânticos e um forte senso de pertencimento coletivo.

Em todo o país, as dioceses mobilizaram os fiéis para participar das programações locais, que incluíram missas solenes, adoração ao Santíssimo e procissões em horários variados. Cada região adaptou suas celebrações às tradições locais, mas todas mantiveram o mesmo espírito de fé, unidade e adoração.